hoje não
andam arredias as palavras soltas livres sorriem e eu
bom ano
queria falar-te dos dias do tempo cortado às fatias invenção dos filósofos padeiros que pão inteiro era coisa de povo queria falar-te dos anos e outros pedaços maiores do tempo que nem esse para todos igual é falo-te da fome da doença da miséria de como crescem longe e perto escondidos ou mostrados consoante a notícia o exige não o ser homem queria falar-te dos dias quando o ano está a acabar e dizer-te que tudo está diferente e tudo ficou na mesma queria dizer-te que não mudei sou eu o mesmo de sempre desde que comecei a ser quem sou a ter o meu tamanho queria dizer-te que podes contar comigo quando os braços se juntam e é justa a causa queria dizer-te que não estou a teu lado nem calarei a mentira a injustiça o cinismo oiço bem vejo bem sei o que quero bom ano
ninguém mata o que foi
guardo o tempo no fundo dos olhos decoro com palavras as imagens nascem rostos nomes aconteceres não invento passados para ser hoje caminho leve de ter sido porque inteiro sou o que o tempo conta não o que contam abraço o sol e a noite os dias cheios ninguém mata o que foi
o silêncio é uma vela
começas a escrever os dias a repetir a palavra ontem cada dia mais vazia de vida mais cheia de memória em ti habitam os que partiram em ti se demoram no sobrevoar da ria tão deles olhas como te ensinaram e lembras os nomes os rostos ainda ouves as vozes o silêncio é um barco e tu a vela que o tempo enche
era uma vez
na bica da proa o sonho navegou ria fora velas enfunadas brancas sempre brancas poiso de palavras de desejos branca a espuma à ré marca de nada mais também eu
sabes
sabes, estou cansado, apetece-me dormir e deixar que volte o tempo em que todos os dias é verão e eu … eu andava sem cuidados pelas ruas
torreira; regata do s. paio; 2019