dói esquecer

quantos passos são dez anos quantas horas mede um homem não sei não sei nada quisera nunca ter sabido dói esquecer
torreira; o recolher do saco; 2016 – irá a zorro na zorra para ser seco
vejo sinto sou
talvez não fosse uma maçã
pode até nem ter havido paraíso
nem adão nem eva nem deus
cada um acredita no que quer
mas há a moeda
o fmi o bce o dólar o euro
o bitcoin pasme-se
há o homem e o fascínio
das moedas todas
lhe poderem dar tudo
talvez não exista céu nem anjos
nem inferno nem diabo
mas existe a ganância a cegueira
a lágrima a mágoa a alegria
a revolta a aceitação a ignorância
a fome o desperdício o luxo
existe ainda a propriedade
e os homens impróprios
isto não é crença é facto
e sei que existo eu
a questionar tudo isto
porque vejo sinto sou
carregar o saco na zorra
(torreira; 2012)
recuso ser de férias
o carregar da rede na zorra
é tempo de olhar
de sentir tudo
o regresso cada dia mais
improvável
é também ele nebuloso
fui
no tempo que passou
espectador atento e preocupado
recuso ser de férias
sou
a impossibilidade de ser mais
sendo menos
fica a memória a pairar na praia
longe
veio do mar, irá agora ser entendido e secar
(torreira; companha do marco; 2016)
só esses
a companha carrega o saco na zorra
vêm da terra as vozes
que não ouvimos
o termos nela raízes
é o silêncio de sermos
sem necessidade de alarido
escrevo nós
e não é o pronome que ouço
são os laços
tão fortes e tão frágeis
que o tempo romperá a seu tempo
não precipites os dias a haver
vítima serás
se carrasco quiseres ser
abraço quem me abraça
escreveu o poeta
eu também
só esses
todos unidos, são a companha
(torreira; companha do marco; 2015)