com: Silvana Batista; Isis Lyly; Maria José Barbosa, Rosa C Foss, Rosario Soares, Maria Vieira, Antonio Carlos, Carmo Mestre, Isabel Costa Pinto, Maria Mardesonhos, Tina Marques, Mariana Goinhas
queria dizer-te
que as montanhas tremem
devido à tua ausência
quisera dizer-te o silêncio que ficou
mas o vento levou-me a voz
não chores mais
há um rio
que passou na minha vida
um rio onde eu vou mergulhar
que há dias esquivos
que tem correntes
onde as águas já são turvas
e onde o tempo por nós não espera
remoinhos
nos teus cabelos
e talvez no coração
que há um rio
onde a nascente e a foz se fundem
e as lágrimas se confundem com a água
náufragos
os dedos tacteiam o escuro de não estares
e a ausência fere e dilacera
nas margens que te prolongam em fragilidades impossíveis
tremem
cansados de boiar
quebram-se as palavras que se não disse
porque tudo se transforma na limpidez tranquila do teu olhar.
para ti caminho
sem nunca querer atrás voltar
porque o silêncio do teu sorriso é uma manhã de luz
longínqua e tão próxima
incandescente no meu corpo afogado!
perdido em mim e em mim encontrado
e o teu nome pleno de cânticos de todas as aves
queria dizer-te
que o pássaros me pousam nos poros abertos em desalinho
que o ar que respiro me corta e mata sem doer
e que as mãos se estendem como flores nascendo
na luz do crepúsculo que nos acolhe
no meu peito terra aberta
ao dilacerante amor paixão
que nos consome com a nossa permissão
em lugar secreto porque rio imaginado
perdido
nos segredos seculares do teu peito
em ti me encontro para me voltar a perder
labirinto-me
escrevo-me
descrevo-te
percorro a tua face na minha mente
revejo-me
queria dizer-te
que em ti te me vejo
que me resumo a nada
e nado nos teus lábios de mar
a mar
este não ser sem ti
que o fogo e a água são a mesma natureza
no obscuro instinto do desejo
insensata e circular
anseio-te
mas queria dizer-te
um rio por entre os dedos
tanto te quero eu dizer que as palavras se confundem na minha boca
e já nada se solta a não ser esta vontade louca de te ter aqui
que as sombras se tocam
que as frases se enlaçam em nós
e tocam em carícia os teus cabelos
onde pétalas
ainda salpicadas de puro orvalho
queria dizer-te
que não há limites para ti, centro de luz
que a vida se resume a ti
na corola imaginária do orvalho
na luz refractada na gota
onde os teus olhos brilham meu amor
queria dizer-te
que começará um dia a despedida
porque quero guardar o teu rosto para melhor te sonhar
e por onde a brisa passa sem nos tocar
que por ti verterei todas as dores que não escolhi
para que não seja nunca uma perda
que seja tão somente a melhor lembrança de nós
queria dizer-te
que não partiste
que de mim me esqueci para te poder lembrar
que mesmo distantes o rio imaginado será a unidade que procuramos
e o teu nome terá a magia do vento
e seremos peixes para sermos
aves
garças que se moldam entre si
voaremos de asas dadas
as ondas dizem o teu nome
gaivotas que pousam na areia
no mesmo areal onde te olhei
queria dizer-te
que ainda te sei
que ainda permaneces em mim
isto queria