escrevam em todas
as paredes
em todos os muros
das cidades
e das aldeias mais perdidas
no fundo das serras
escrevam em todos
as folhas de papel
seja ele qual for
soltas ou em caderno
brancas, de cores ou mesmo
sujas
mas escrevam
escrevam tudo o que
ainda não disseram
o que eles ainda não
ouviram
as palavras com pedras
com gente, com fome
com injustiça, com desespero
as palavras que virem
nos rostos cansados
consumidos e cerrados
no cansaço deste estar aqui assim
escrevam
foi para isso que aprenderam
o que os outros não
se não o fizerem
de nada servirá o que sabem
não
isto não é um poema
não sei sequer o que é isso
é um vómito
sobre esta corja toda
e eu quero vomitar hoje
nos palácios
nas mansões
nas administrações
nas governações
escrevam
escrevam muito
que nunca é tudo