quando o mar trabalha na torreira_ana e alfredo amaral


ana amaral e o filho alfredo

espectadores momentâneos
da arte

aguardamos
a chamada o grito
as palavras por sobre a areia voadas

seremos então
mais dois na faina
mãe e filho
mulher e homem
na labuta que o sol permite
o mar aceita
a vida exige

entretanto
na areia quente
a ternura
persiste

(hoje o alfredo é homem feito e braço de trabalho ao lado mãe – torreira; século XX)

ti antónio


ti antónio acabou

se tivesse que dizer dele

diria: o silêncio

 

parco de palavras

silencioso e metódico no gesto

homem de terra que de mar

já foi

 

o ti antónio

sempre me olhou assim

desconfiado

perguntando-se

(penso eu)

que fará este homem

com máquina fotográfica

aqui onde o que é preciso

são braços de trabalho?

 

tenho-o visto ultimamente

já um pouco acabado

não vai trabalhar na companha

mas não resiste ao “chamado do mar”

todos os dias caminha até ele

até onde as forças o deixam

para saber dos lanços

da faina

 

o ti antónio será acabou

de apelido

mas continua

pescador da torreira

no silêncio que sempre foi o seu

(torreira; 2006)