das árvores

o passar da pancada de mar
gosto das árvores
que se tornaram barcos
admiro os homens
que são árvores
dentro dos barcos
(torreira; 2010)
das árvores
o passar da pancada de mar
gosto das árvores
que se tornaram barcos
admiro os homens
que são árvores
dentro dos barcos
(torreira; 2010)
1. ouvi o barulho da serra. levantei-me. vesti-me. peguei na máquina. aproximei-me e comecei a fotografar. que não podia. que tinha de sair. que me tiravam a máquina. semblantes carregados. rostos fechados. cercas encerradas de imediato.
afinal, só estavam a abater 3 árvores. só isso. porquê o medo? porquê? o que é que estava a fazer?
2. voltei mais tarde. de longe. equipado. fica o registo
3.
a ordem
o homem
a mão
a serra
a ferida
o esticão
a morte
as árvores
dormem nas nuvens
os homens
quando acordarão?
aqui onde me vês
cresci para as nuvens
e para a terra
sou mais que ninguém
d’aqui
não tenho pernas
tenho raízes fundas
que me prendem
não tenho corpo
tenho tronco que te abriga
não tenho braços nem dedos
tenho ramos e folhas
que te fazem sombra
e te protegem da chuva mansa
não falo
não reclamo
não grito
espero que tu
que tens pernas braços dedos
e voz sejas agora
o que eu para ti fui
o abrigo
a defesa
o amigo
aqui
na rua joaquim sottomayor
onde marcaram quatro irmãs
para serem abatidas
não os deixes
(figueira da foz; 21 de julho, 2017)
junto à esquina norte, antes dos semáforos
“vamos alargar a rua e, não vê, estão velhas”
e foi assim, hoje de manhã, que um funcionário respondeu, quando lhe foi perguntado se as árvores que estavam a marcar eram para abater.
sim, são para abater!
sim estão marcadas!
sim são árvores, árvores em plena cidade, certamente mais velhas que o funcionário de velho pensar.
proteger as árvores, com certeza! agora as nossas, no meio da cidade…. são para arrancar.
já arrancaram as mais jovens, chegou a vez das “mais velhas”.
assim vamos por cá
(figueira da foz, 20 de julho, 2017)
todas as quatro árvores estão marcadas com uma cruz pintada a branco, para que quem venha saiba que ….. são para abater