(o livro está aí, estão todos convidados)

(o livro está aí, estão todos convidados)

bem vindo à sua terra
bem vindo à sua terra
dizem-me quando
não sei desfazer este nó
prendem barcos
unem cordas
ligam gente
são raízes
os nós
mas como são frágeis
os nós humanos
como somos
sem nós
há nós impossíveis
de desfazer
pois há

(torreira; 2010)
plantem-me no mar
duvido de tudo
estou vivo
para questionar
alinhados em canteiros
com flores de plástico
visitas em data certa
jazem os que aceitam
mesmo depois de
continuarei a duvidar
recuso o canteiro
plantem-me no mar

(torreira; 2013)
o meu amigo agostinho trabalhito (canhoto)
da casa e do mar
moro ao pé do mar
e não o vejo
das minhas janelas
ouço-o nas noites
de temporal
entra na casa como
se sua e eu
as vistas da casa
são outras casas
com outros eus
chamam a isto
cidade
porque muitos
saio de casa
em direcção ao mar
e é sozinho
que me reencontro

(praia de mira; 2009)
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Alfredo Cunha expõe no Museu Marítimo de Ílhavo “UMA NOITE NO MAR”
Este trabalho de Alfredo Cunha, fotógrafo de muitos talentos, humaniza os tripulantes das traineiras, exalta os seus gestos e restabelece a harmonia das máquinas de navegar com os caçadores de peixes. Num registo de grande fotojornalista, intuitivo e experimentado em múltiplos lugares de fotografia e de vida, Alfredo Cunha registou à sua maneira “Uma Noite no Mar”. Numa noite de vésperas de S. João, embarcou na traineira “Henrique Cambola” e saiu de Matosinhos em busca de bons mares. Habituado a ambientes hostis, por horas fez-se pescador e tripulante e fotografou as águas de estanho da noite que se despedia. Registou os gestos do mestre e dos pescadores, praguejando entre si, içando as redes e sacudindo o peixe miúdo, que resultou nesta inédita exposição de 40 de fotografias organizada pelo Museu Marítimo de Ílhavo e num extraordinário catálogo.
http://www.museumaritimo.cm-ilhavo.pt/frontoffice/pages/99?event_id=473
BIOGRAFIA do autor
Alfredo de Almeida Coelho da Cunha nasceu em Celorico da Beira em 1953.
Começou a carreira profissional ligado à publicidade e fotografia comercial em 1970. Tornou-se colaborador do Jornal Notícias da Amadora em 1971.
Ingressou nos quadros do jornal O Século e O Século Ilustrado (1972), na Agência Noticiosa Portuguesa — ANOP (1977) e nas agências Notícias de Portugal (1982) e Lusa (1987). Foi fotógrafo oficial do Presidente da República António Ramalho Eanes, entre 1976 e 1978. Em 1985 foi designado fotógrafo oficial do Presidente da República Mário Soares, cargo que exerceu até 1996.
Foi editor de fotografia no jornal Público entre 1989 e 1997, altura em que integrou o Grupo Edipresse como editor fotográfico. Em 2000, tornou-se fotógrafo da revista Focus.
Em 2002, colaborou com Ana Sousa Dias no programa Por Outro Lado, da RTP2. Entre 2003 e 2012, foi editor fotográfico do Jornal de Notícias e diretor de fotografia da agência Global Imagens. Atualmente, trabalha como freelancere desenvolve vários projetos editoriais. A sua primeira grande reportagem foi sobre os acontecimentos do dia 25 de abril de 1974.
Alfredo Cunha recebeu diversas distinções e homenagens, destacando-se a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (1995) e as menções honrosas atribuídas no Euro Press Photo 1994 e no Prémio Fotojornalismo Visão|BES 2007 e 2008. Realizou várias exposições individuais e coletivas de fotografia, como Da Descolonização à Cooperação (1983) e Portugal Livre (1974). Das dezenas de livros de fotografia que já publicou destacam-se Raízes da Nossa Força (1972), Vidas Alheias (1975), Disparos (1976), Naquele Tempo (1995), O Melhor Café (1996), Porto de Mar (1998), 77 Fotografias e um Retrato (1999), Cidade das Pontes (2001),Cuidado com as Crianças (2003), A Cortina dos Dias (2012), Os Rapazes dos Tanques (2014), Toda a Esperança do Mundo (2015), Felicidade (2016) e Fátima — Enquanto HouverPortugueses (2017).
Alfredo Cunha fotografa com máquinas Fujifilm X e é um dos X Photographers da Fujifilm Global.
https://www.portoeditora.pt/autor/alfredo-cunha
(Da exposição “Uma noite no mar” inaugurada no dia 19 de Maio de 2018, fica o registo possível)
essencial
essencial a corda
as mãos
tu nelas inteiro
essenciais as mãos
a corda
tu nelas sempre
essencial tu
fazedor de

(costa de lavos; 2017)
oiço-te
escuto nas mãos
as vozes por dentro
oiço-te

(torreira; 2013)
de palavras
de palavras farás
a casa
nela habitarás
nu
despido de tudo
cheio
de ti

(torreira; 2013)
diálogo com álvaro de campos

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
nem isso álvaro
nem isso

(torreira; 2013)
as mãos
as mãos
chegam pela manhã
a carícia
quanto partem
dizem em silêncio
a dor de
as mãos que dei
não esperavam nada
nem o que recebi
poucos são os
finais felizes

(torreira; 2016)