os moliceiros têm vela (418)


estou vivo, tenho opinião e escrevo-a

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cais do bico; regata do emigrante; 2020

os painéis dos moliceiros têm sido objecto de estudo e até teses de doutoramento – caso de clara sarmento -, sendo as pinturas e as legendas objecto de classificação.
 
no livro ” Os Moliceiros da Ria de Aveiro – Quadros Flutuantes” , clara sarmento propõe a seguinte classificação : Jocosos (Eróticos, Instituições, Figuras típicas, Trabalho); Religiosos; Vida Quotidiana (Trabalho da Ria, Varinas, Mestres e seus Barcos, Apelos Ecológicos à preservação dos moliceiros, Festas e Cerimónias, Ditos e Conselhos); História e Personalidades (Monarcas, Descobrimentos, Escritores, Soldados e Cavaleiros, Personagens do imaginário e lazer).
 
ana maria lopes no livro “MOLICEIROS” propõe : Amorosos; Eróticos (Maliciosos); Patrióticos; Históricos; Profissionais; Folclóricos; Desportivos; Quotidiano.
diamantino dias, no site aveiro e cultura ((http://ww3.aeje.pt/avcultur/avcultur/DiamDias/Diversos/ConcursoPai.htm) propõe: Satíricos, Amorosos; Profissionais; Religiosos e Patrióticos.
 
a preservação deste património terá levado, inclusivamente, à criação dos concursos de painéis em aveiro por iniciativa do vereador arnaldo estrela santos, em data anterior a 1957 – segundo diamantino dias – e na romaria do são paio, na torreira.
 
a predominância dos painéis “Jocosos” ou “Eróticos” em relação aos restantes, verificada nos últimos anos, terá a ver, segundo o pintor josé oliveira, com os prémios pecuniários atribuídos pelos júris e que recaíam normalmente sobre estes. facto que terá levado o dono de um moliceiro a dizer ” pró ano é gajas, o que eles querem é gajas” (cito josé oliveira).
 
mas “Jocosos” ou “Eróticos” respeitavam sempre aquilo a que habitualmente se designa por “brejeirice da beira ria”, caracterizada pelo duplo sentido, pelo subentendido, pela “riqueza de interpretações de uma frase”, a que a pintura empresta mais uma interpretação dúbia, não sendo explícita, nem “para maiores de 18 anos”.
 
infelizmente a “brejeirice da beira ria”, que reflecte a velha expressão “a língua portuguesa é muito traiçoeira”,  parece estar a derivar para uma “vilhenice” de segunda categoria, para não dizer pior. se a legenda é de duplo sentido, a pintura é de muito mau gosto, de leitura única e desaconselhada “para todas as idades”.
 
em 2019 surgiu o primeiro painel com estas características, em 2020 já foram dois. por este andar onde vamos acabar?
 
não sei qual foi a classificação do júri para os painéis em causa, nem li quaisquer reparos a tais pinturas.
 
enfim, se é triste verificar que o empobrecimento dos motivos decorativos dos painéis tem a ver com as decisões do júri na atribuição dos prémios pecuniários, não podemos deixar resvalar os desenhos/pinturas para, desculpem-me o termo porque forte, a “ordinarice”.
 
(nota : não reproduzo os painéis em causa por motivos óbvios)

os moliceiros têm vela (322)


abílio fonseca (carteirista)

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o ti abílio já passou os 80 e ainda cá anda a velejar e a ser o exemplo acabado daquilo a que alguns chamam a “brejeirice da beira-ria” – e que tanto tem sido representada nos painéis dos moliceiros.

passem umas horas com o ti abílio e verão como todos os painéis brejeiros podem ser de carne e osso.

nascido e criado na gafanha baixa, na murtosa, cresceu no moliço, foi para a marinha, emigrou, regressou e continua.

é dono do moliceiro “Dos Netos”, o único que não foi construído na zona norte da ria, mas pelo mestre gadelhas, de seixo de mira.

a boa disposição toma-a ao pequeno almoço e adormece com ela.

tratamo-nos por tu e eu tenho por ele amizade e respeito.

guardo, emolduradas, as medalhas que me ofereceu nas regatas da ria e do s. paio, em 2016.

amanhã, dia 5 de agosto, se tudo correr como planeado, lá estaremos na provocação brejeira, tão nossa, tão da beira-ria.

(torreira; regata da ria; 2013)

regata da ria 2016 (2)


as pinturas dos painéis e as decorações dos moliceiros

 

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a beleza do moliceiro não reside somente na elegância da suas linhas, as pinturas dos painéis da proa e da ré, fazem de uma regata de moliceiros a única “galeria de pintura flutuante e em movimento” em todo o mundo.

há 25 anos que o pintor josé manuel oliveira e, nos últimos anos, o pai , necas lamarão, se dedicam à pintura de painéis e decorações dos moliceiros.

da invenção da pintura às legendas, são eles, raramente com a ajuda dos donos dos moliceiros, que fazem este reencontro com a tradição.

nem sempre é fácil conseguir juntar pai e filho no mesmo registo, não é fácil mas, desta vez , consegui.

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(torreira; 27 de junho de 2016)