poema para este tempo
denunciar
resistir
denunciar
(moliceiro; regata da ria; aveiro; 2015)
os moliceiros têm vela (566)
a minha língua é filha e mãe
pare e acolhe é colo e berço
a minha língua é viva
a minha língua tem as portas
abertas às palavras
às gentes às geografias
a minha língua é antiga e jovem
é muitas linguas é rio
rico de afluentes desagua em delta
a minha língua é livre
se acordos quiseram acorrentá-la
oiçam-na migrante na sua terra
a minha língua é pacífica
mais que isso humilde
resigna-se a que dela mal digam
e o façam usando-a
a minha língua já foi e há-de ser
mais que os que a usam
permanecerá no tempo
sorrindo ao mundo portuguêsmente
a minha língua não tem dono
e só é minha porque a uso
não porque me pertença
e tua será se a usares
não mordas a tua língua
o sangue pode sufocar-te
(moliceiro; regata da ria; torreira; 2014)
o meu reino não é
deste mundo
dizem que disseste
abro parêntesis
gosto muito de ler
vivo tudo o que leio
fecho parêntesis
olha meu caro
embora não tenha reino
e seja apenas aposentado
também não sou deste mundo
expulsaste os vendilhões
do templo dizem
melhor fora não que agora
não há templo que lhes baste
as águas por onde dizem
que andaste agora são
de sangue e não há peixes
pequenos só tubarões
abro parêntesis
não voltes outra vez
deixa-te estar sossegado
em belém só pastéis
fecho parêntesis
a realidade não é
um romance
é uma tragédia
(ria de aveiro; regata da ria; 2013)