
retratos da minha terra


maria murta

torreira; 2006
viúva do arrais zé murta, falecido em 2010, mãe de 2 rapazes e duas raparigas, todos fazendo parte activa da companha
presunção

o meu amigo vitó (falecido)
quando eu já cá não estiver
e te sentares numa rocha
à beira mar
talvez te lembres de mim
talvez
(torreira; 2013)

retratado pelo amigo camilo rego
porque as palavras ditas estão no vídeo, ficam aqui as palavras escritas – enviadas por email – por uma amiga de lisboa a dizer do livro.
“Bom dia, António…
São quase 3 da manhã, começo agora mas não sei quando concluirei. É tanto o que despertou em mim a tua leitura, tenho dificuldade em começar.
Peguei no livro que recebi, o toque da campaínha, a minha mãe a perguntar do alto dos cento e tal degraus ” o que traz hoje ?”, através dos anos, trouxe-me a memória da peixeira, não no areal, mas numa rua de Lisboa.
Fazes a homenagem às rugas, aos sonhos desfeitos na espuma do tempo, à esperança no amanhã, ao continuar até…, remendas as redes da vida dura, entre sal, areia, gaivotas, MUITO MAR e algum amor.
O carapau, a sardinha sofrem quando o saco é aberto, para gozo dos veraneantes, que confundem o trabalho, morte, com uma festa.
Assisti no ano passado na Costa da Caparica e tentei mostrar aos meus netos a singularidade do morrer para viver.
Estão ali os que partiram, mas permanecem em ti e os que sobrevivendo se mantêm.
Estão afinal todos, contigo nas letras e no teu olhar.
Mas… Aquelas belas fotografias a que me habituaste no Facebook, ficam apagadas pela qualidade da edição.”
o vídeo da apresentação
a assistência retratada pelo amigo paulo delgado


com pedro lindim, presidente da associação de moradores da praia da tocha, retratados por camilo rego

não posso deixar de referir os momentos que mais me emocionaram durante a apresentação:
todos os presentes foram muito participativos e a todos agradeço o terem estado e aguentado a descarga emocional que a leitura do livro sempre produz. bem hajam
obrigado associação de moradores da praia da tocha, junta de freguesia da tocha e câmara municipal de cantanhede
obrigado tânia
para ti PAULO DELGADO já não há palavras, foram todas dentro do abraço.
talvez da ternura

talvez a ternura
ti luísa
escrevo com os olhos
ti luísa
da calada a conheci
da nortada mais tarde
falar consigo
é ouvir estórias
tenho saudades
ti luísa
de si e do mar
talvez da ternura
ti luísa talvez

(torreira; 2005)

os velhos atravessam o tempo de memória com mão ágil lágrima grossa regressam os velhos caminham caranguejos lentos medusas de horas e anos os velhos ajoelham calos e varizes nas pedras gastas do passado os velhos contam histórias antigas sabedoria de séculos os velhos afagam as crianças macias as mãos grossas magras ossudas os velhos arrastam-se e caem cansadas as pernas fechados os olhos os velhos às vezes já estão mortos outras morrem ainda mais velhos os velhos vivem e recordam e não vivem e recordam ainda os velhos já foram por isso são