a milésima publicação!!!!!!!!!!!!!!
obrigado antónio bordalo
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obrigado antónio bordalo
o barco moliceiro, princesa da ria
de todos os barcos que sulcaram, ou sulcam ainda, a ria o moliceiro é sem dúvida o mais belo. atrever-me-ia a dizer que é em simultâneo uma obra de arte e um instrumento de trabalho.
perfeitamente adaptado ao trabalho na ria, em que a as águas de pouca profundidade são predominantes, o moliceiro é um barco de fundo chato com um pontal de 40 a 45cm, navegando, quando carregado, com os bordos ao nível da água.
o facto de o pontal (distância entre o convés/bordo e o fundo) ser tão pequeno, facilita o trabalho dos moliceiros que, para arrancar o moliço do fundo, arrastavam os ancinhos os quais, depois de carregados tinham de ser erguidos e despejado o moliço dentro do barco. quanto menor o pontal, menor o esforço dispendido.
se na sua construção de base se encontra uma adaptação ao meio onde se move, e ao fim a que se destina, há porém factores que nada tem de utilitário: a forma da bica da proa e os painéis pintados à proa e à proa.
o que é que terá levado a que o moliceiro tenha uma bica da proa tão curva? Tão semelhante à da barca de mar (da arte xávega)? não há qualquer finalidade utilitária nestes pormenores, são puros adornos.
com um comprimento entre 14,50m e 15m (Drª Ana Maria Lopes – Moliceiros : A Memória da Ria) e uma boca entre os 2,50m e os 2,60m, o moliceiro é um barco de linhas esbeltas e extremamente elegantes: uma jovem princesa que se passeava pela ria.
é esse o seu encanto, a causa da paixão de todos os que nele trabalharam, passearam ou meramente contemplaram. é impossível ficar indiferente a uma princesa. por amor a ela às regatas todos se entregam, sem contrapartidas que não a emoção.
os moliceiros e apanha do moliço
de acordo com “ Relatório Oficial do Regulamento da Ria”, de que é co-autor o então capitão-tenente jayme affreixo, publicado em 1912, os números relativos à apanha de moliço eram os seguintes:
1.883 …. 1.342 barcos
1889 …. 1.749 barcos —— 957 moliceiros ——- 2.687 lavradores
1911 …. . 1.054 barcos —– 875 moliceiros ——- 1.633 lavradores
“A estatística de 1.883 dá 158:000$000 réis para o valor anual da colheita ao preço médio de 1$250 réis a barcada.
o cálculo do seu rendimento pode fazer-se de acordo com o seguinte modo:
“Existem 1.500 barcos (aos 1.054 registado na capitania acrescenta 400 a 500 não registados), cada um dos quais, nos 3 meses de Agosto, Setembro e Outubro, à razão de uma barcada por dia de trabalho, colhe seguramente 70 barcadas, cujo preço médio não é inferior a 1.$800 réis; e, no resto ano, à razão de uma barcada por 4 ou 5 dias, colhe 30 barcadas ao preço médio de 4$000 réis. Igualando porém este preço ao anterior, para desconto de barcos de lavradores que nesta segunda época não exercem a apanha temos: 1.500 barcos, com 100 cargas cada um, a 1$800 réis, ou seja um rendimento anual de 2.700$000 réis”.
ainda de acordo com o mesmo relatório:
“ Em 1907 e 1908 o rendimento total da produção marinha da ria de Aveiro é:
Peixe ………. …………………………54.000$000 réis
Peixe de viveiros ………………….……3.000$000 réis
Algas (moliço) valor superior a …….. 270.000$000 réis
Juncos, valo superior a ………. 73.000$000 réis
Total ………………………………… 400.000$000 réis”
por aqui se vê o valor que representava o moliço na riqueza produzida pela ria.
da esquerda para a direita: miguel matias (proprietário do pardilhoense), joaquim ligeiro (moliceiro), zé rito (mestre construtor de barcos e moliceiro); zé rebeço (moliceiro), zé oliveira (pintor), necas lamarão (pintor e pai de zé oliveira), emanuel oliveira (pintor), manuel valas (moliceiro)
indignação hoje na torreira
todos os anos realiza-se a maior regata de moliceiros da ria de aveiro, ligando a torreira a aveiro, patrocinada pela câmara municipal de aveiro, integrando a “festa da ria”.
este ano foi marcada para o próximo dia 14 de julho e todos, os cada vez menos, proprietários de barcos moliceiros, iniciaram as despesas necessárias à participação na regata: pintura e reparações, onde gastaram sempre para cima de 1.000 euros.
qual não é o espanto quando hoje, dia 6, no estaleiro do mestre zé rito, ao ler o correio da manhã, o pintor zé oliveira, depara com a seguinte notícia (meio disfarçada): “não vai ser possível realizar as regatas porque não há verbas”, explicou maria da luz nolasco, vereadora da cultura (câmara municipal de aveiro) …….
mas que verbas srª vereadora? os donos dos moliceiros já as dispenderam, o custo total com a regata de moliceiros – feito no estaleiro com os moliceiros e mestres presentes – foi estimado, por cima, em 8.000 euros, tendo em conta os barcos que participariam na regata, os subsídios a atribuir e os prémios a distribuir.
será que a cultura não vale 8.000 euros? o que é a festa da ria sem a regata de moliceiros? quem vai apoiar os proprietários que já realizaram a despesa? que falta de consideração pelos homens da ria a srª vereadora demonstrou ao não os contactar com tempo e fazê-lo através de uma notícia de jornal, num parágrafo perdido no meio?
o moliceiro é o mais belo barco do mundo, aveiro apregoa ser a pátria do moliceiro e depois…. depois diz que não há dinheiro para a regata.
acabar com a regata é ajudar a acabar com os poucos moliceiros que restam, menos 3 este ano que no ano passado, é matar o ícone de todo uma região.
a respeito de camões, escreveu almada negreiros, “este é o país que enche a boca de camões e onde camões morreu de fome”. volta almada e diz de aveiro o que disseste do país.
a pouco e pouco matam a história deste povo e um povo sem história, não existe. façam-no, se assim o querem, mas assumam-no, não sejam hipócritas.
uma festa da ria sem regata de moliceiros é uma mesa posta onde não é servida qualquer refeição.
como diriam os mais velhos “haja respeito”, que esta gente merece, é dela a bandeira que ergueis bem alto, enquanto calcais quem a fez. é este o vosso modo de estar.
mas os moliceiros são gente e de bem, por isso sentem-se e farão sentir que não são merecedores desta prepotência e ignorância.
há lama basta no leito da ria, mas também há muita fora dela em bons gabinetes.