
largados os rolos, o calão inicia o largar da rede
largados já foram todas os rolos do reçoeiro, chegámos ao local definido pelo arrais para fazer o lanço. para tentar a sorte, para tentar ser ouvido por deus nas preces que fez ao largar.
a distância da costa a que se faz o lanço depende da “intuição” do arrais, ou do resultado de lanços anteriores da companha ou de outras vizinhas.
é claro que quanto mais longe da costa forem lançadas as redes, mais área é “varrida”, maior a probabilidade de um cardume ser apanhado, de mais peixe “vir” na rede. mas, e isto é muito importante, quando se trata de pesca artesanal, é a sorte que decide. de outros factores falarei noutro momento.
o calão da manga do reçoeiro vai ser lançado ao mar, repare-se na função de “passadiço encaminhador” desempenhada por um bordão, que um camarada segura e se apoia numa furação feita na beirada do barco.
tudo agora é lento, preciso, o motor quase parado, o silêncio é interrompido somente por algum reparo do arrais no largar das redes.
este é, para mim, o momento que justifica o ter vindo. a sensação de não estar em lado nenhum e em toda a parte, é agora.
(torreira; companha do marco;2011)