António Ramos Rosa [Faro 1924 – Lisboa 2013]

António Ramos Rosa [Faro 1924 – Lisboa 2013]


poesiayotrasletras's avatarPOESíA Y OTRAS LETRAS

Créditos da imagem: Nuno Calvet

Nos versos de QUATRO POEMAS SOLIDÁRIOS de O centro na distância de António Ramos Rosa, a solidez da pedra distingue-se pela sua compacidade, que se recusa a ser penetrada. Seu mundo fechado é um convite para deixar nossa imaginação correr solta. Nós, de fato, somos o mineral que devemos trabalhar pacientemente para transformar a indiferença, a ignorância e a felicidade, na verdadeira pedra. El Che foi uma dessas pedras, fortalecida pela luta, cuja presença faz parte do nosso imaginário. Ele ainda é uma presença forte, porque a pedra está sempre aberta a uma nova vida e sua transformação. De facto, o herói argentino assumiu um novo significado para se transformar no símbolo da continuidade da nova história. De modo que se o poeta apresentar a matéria tosca da pedra para transformá-la em forma sutil através de um trabalho de humanização do dado, esta…

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a beleza do sal (129)


no sal a memória do sol e do mar

armazéns de lavos
estalam-me na cabeça
os tufões medonhos do atlântico sul
rebentam-me nos olhos
as calemas de março
o simoun enche-me a boca
de areia e raiva

lambem-me o sexo
as chamas que no verão
devoram pinhais e searas
tremem-me as mãos
sinto nos dedos os abalos de agadir

mergulham ante meus olhos horrorizados
todos os passageiros do titanic
o amazonas corre-me nas veias
ribombam-me no coração
as cataratas do niagara
os ouvidos rebentam-me
com a pressão dos grandes rios
a entrarem no mar

o corpo arde na fogueira
possesso de um demónio
inventado pela inquisição

todo eu tremo ante tanto desvario
e tudo se conjuga
no rodopiar do carrossel louco
desta cabeça
que não sei se é minha
mas que pesa
como se fosse o mundo 
armazéns de lavos

“ESCRITO NUM LIVRO ABANDONADO EM VIAGEM” de álvaro de campos


no dia 10 de fevereiro de 2020 publiquei o primeiro vídeo desta série de poesia lida em voz alta, a que chamei “quase”. dois anos passaram e mais de 320 clips foram publicados, mais de 200 estão prontos a ir para o ar e as gravações continuam – quando me apetece e ….

ao longo deste tempo os clips foram semanais, bissemanais e trissemanais. a partir de hoje serão diários, de segunda a sexta.

cerca de quarenta e um anos passados sobre a primeira vez em que, em coimbra, li poesia em público, regresso com o mesmo livro e o mesmo autor “álvaro de campos”

como alguém escreveu: “um poema por dia, não sabe o bem que lhe fazia”, a intenção é essa. espero não desiludir