Era uma vez o Barco Moliceiro
Em 2022 foi inscrito no Património Cultural Imaterial Nacional o “Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro , ou com “Outras denominações” : Construção e Pintura de Moliceiros; Construção do Barco da Ria de Aveiro.
Não é por acaso que o “Barco Moliceiro” aparece na designação da aprovação, ele é bandeira e ilusão. No descritivo apresentado e aprovado é dada grande relevância ao Barco Moliceiro e suas características, porém no último parágrafo pode ler-se:
“Adaptações construtivas do Barco Moliceiro para a atividade turística: Com o desenvolvimento da atividade turística a partir do início dos anos 2000 registou-se um crescimento do número de embarcações existentes – depois da diminuição de barcos moliceiros verificada partir dos anos 50 (ver Doc1_ResenhaHistorica, pág.45) – tendo levado a alguns ajustes e a adaptações construtivas em prol da segurança dos turistas, por um lado, e para permitir a navegação nos canais urbanos da Ria de Aveiro, por outro. Importa, contudo, referir que todo o processo e método de construção de carpintaria naval do Barco Moliceiro, dinamizado pelos Mestres, se mantém fiel aos padrões originais, havendo apenas algumas alterações a nível de estrutura e tamanho, a saber: • Mastro – o mastro que sustenta a verga, onde prende a vela foi “retirado” para possibilitar a circulação das embarcações que navegam nos canais urbanos da Ria. • Falcas – as falcas, pranchas que se ligam, entre si, por justaposição e que se colocam no bordo do barco, são atualmente fixas para permitir que a embarcação tenha mais altura e por consequente maior segurança para os turistas. No passado eram amovíveis. • Assentos – para uma maior comodidade dos turistas durante os passeios foram introduzidos assentos em volta da embarcação. • Cavername – todas as cavernas são niveladas por forma a que o chão seja mais estável para a circulação de pessoas. • Método de propulsão – Andar à vela, andar à vara e andar à sirga deixaram de ser os métodos de propulsão do Barco Moliceiro mais utilizados na navegação, sobretudo, nos canais urbanos, tendo sido introduzido o motor como alternativa. • Tamanho da embarcação – de forma a servir o propósito para a atividade turística as construções são, por vezes, ligeiramente mais compridas e mais largas, ultrapassado os tradicionais 15m de comprimento de 2,50/2,60m de boca. De forma geral, e pese embora estas alterações, o Barco Moliceiro mantém uma estrutura muito similar à original, quer ao nível construtivo, quer decorativo. “
(https://matrizpci.patrimoniocultural.gov.pt/InventarioNacional/DetalheFicha/818?dirPesq=0)
Espero que tenham lido a totalidade da transcrição porque ela aparece, estranho seria se assim não fosse, como último parágrafo de um documento extenso. Será para não ser lido?
Ou seja, a partir da inscrição no Património Cultural Imaterial Nacional em 2022, os barcos que circulam nos canais de Aveiro, passaram a poder ser designados por “Barcos Moliceiros”, facto que não é, nem será nunca, pacífico para os estudiosos e amantes do Barco Moliceiro.
Com a inscrição no Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2025, dia 09 de Dezembro para ser mais exacto, esta designação passa a ser reconhecida pela UNESCO, e ai de quem diga que não há Moliceiros nos canais de Aveiro.,
A farsa foi levada ao palco do país, e agora da humanidade, com o aplauso dos autarcas da CIRA e, nomeadamente, dos autarcas que reivindicam ser a sua terra a pátria do Moliceiro. Soltem-se foguetes, faça-se notícia e prepare-se o funeral do Barco Moliceiro que a ria conheceu.
(moliceiros; regata do s. paio; torreira; 2017)
no jornal online “Notícias de Aveiro”









