à conversa com josé oliveira


https://youtu.be/5X9Xvb3CUNk

a conversa aqui registada ocorreu, em 2018, no atelier de pintura de josé oliveira, com a finalidade expressa de ser divulgada no youtube, tal como foi feito com outras conversas com mestres construtores e outros portadores de memórias da ria.

lista dos testemunhos recolhidos:

- mestre joaquim henriques (raimundo) - murtosa

https://youtu.be/kT2yl0rLJIA

- mestre antónio (pardaleiro) - pardilhó

https://youtu.be/z9JHZjBqpsI

- mestre arménio almeida - pardilhó

https://youtu.be/dm363PBzZHE

- mestre firmino tavares - pardilhó

https://youtu.be/xyanM3R0gCE

- mestre zé rito - torreira

https://youtu.be/wauI02JEVRw

- marco silva - torreira

https://youtu.be/o4pX6936H4s

- ferreira nunes  - murtosa

https://youtu.be/6Lsn6BMnq98

- francisco faustino (conversas murtoseiras) - murtosa

https://youtu.be/15VOlIjMRuw
https://youtu.be/Ose734zN3LY 
https://youtu.be/RSUBVjidwjE

- ti abílio fonseca (carteirista) - murtosa

https://youtu.be/L3F4gt12L30 
https://youtu.be/MbJJ6FwOVTk
https://youtu.be/zZq76RH8QZE 

- ti zé rebeço - murtosa

https://youtu.be/_wUYPqHAeo8

- diamantino dias - aveiro

https://youtu.be/PLRsbv_GQqA

(várias vezes tentei encontrar-me com o mestre felisberto amador (caçoilo) de pardilhó, nunca conseguimos encontrar-nos para fazer uma gravação. fica assim por preencher esta lacuna, haja alguém que a complete que, por mim, a tarefa a que me propus está concluída)

os moliceiros têm vela (435)


felizes

ria de aveiro; regata da ria; 2013
correm atrás do vento
da glória talvez
 
sonham-se o infinito
presos à terra
 
de tão grandes não
cabem em si
 
admiro-lhes as certezas
os juízos sábios

felizes não se sabem  
presumem-se 

quedo-me em silêncio
de tão pouco ser
 

os moliceiros têm vela (428)


sou ainda

torreira; regata da ria; 2011
 esqueço-me
 com facilidade
 
 
 o tempo já
 não me chega
 porque curto
 para tanto
 
 
 lembro-me
 com dificuldade
 
 
 as palavras
 sobem a custo
 os degraus
 do poema e hesitam
 antes de
 
 
 escuto-me
 com acuidade
 
 
 perco-me
 muito
 encontro-me
 tanto
 
 
 sou ainda 

os moliceiros têm vela (423)


raízes

aveiro; regata da ria; 2019
apertam-se as mãos
e são letras de palavra dita
palavra honrada


homens grandes
frontais de olhar límpido
mãos enormes corações


foram eles o vento que enfunou
as velas do meu estar
com eles naveguei por outras terras
e regressei sempre


às raízes

(a história dos moliceiros, homens e barcos, pode escrever-se com esta imagem:

a palavra dada era palavra honrada, selada no aperto de mãos.

isso aprendi quando me fui fazendo por estas bandas, onde homens de palavra apertavam as mãos.

conheço estas duas mãos, são de dois grandes amigos moliceiros: ti abílio e ti zé rebeço, os dois moliceiros mais antigos da ria.

o ti abílio já vendeu o moliceiro e o ti zé não sabe quanto mais tempo terá forças para o seu.

saber sair é um acto de sabedoria e eles sabem-no.)

os moliceiros têm vela (414)


hoje ontem amanhã

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torreira; regata da ria; 2020; ti zé rebeço

 
sabes que o teu tempo
passou
ainda não completamente
mas
 
os teus olhos vêem por dentro
das coisas e são a memória delas
 
não queres o regresso ao passado
mas que ele se sente contigo à mesa
com amigos mais jovens
a quem passes testemunho
 
o que os teus olhos viram
toda uma geração que viu
 
és ainda
olhas a ria não como
se te despedisses
mas bebendo do copo
até à última gota
 
sentemo-nos
há gente a chegar
à tua mesa