crónicas da xávega (207)


a memória

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o carregar do saco seco na zorra

a memória escreve-se
na areia e vai com o vento

não há malhas que a prendam
e tudo flui somando-se dias aos dias
assim sempre mesmo já quando

saber-lhes os nomes hoje ainda
é mistério que não entendo

aceito
como aceitarei
o não os saber

sei que o tempo
corre numa praia
por onde passo
e já tanto passei

olho tudo com a sensação
de que estive onde estive
sempre de corpo inteiro

assim como não estarei

(torreira; 2016)

crónicas da xávega (188)


às gentes da xávega

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haja peixe certo no tempo certo

que 2017 traga às redes
o peixe o carapau a sardinha
que negou em 2016
no tempo certo

que nem todo o tempo o é
isso aprendi
por isso o desejo

a todos os que da xávega
fazeis vida

que os que ainda não vos respeitam
aprendam em 2017
que quando deixardes de ser
a sua terra perderá
muito mais de si
do que uma simples arte de pesca

perderá o futuro
porque deixou morrer
o passado

(torreira; 2015)

postais da ria (192)


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henrique pai e henrique filho, brandões (gamelas)

o tempo tudo julga
e a seu tempo
dirá de sua justiça

o tempo julga
à velocidade
da justiça portuguesa

em sede de recurso
se acaso houvesse
seria de mortos a demanda

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os henriques brandão, pai e filho

 

(torreira; cirandar)