mais um


agostinho trabalhito (canhoto)

 
dir-te-ão as bibliotecas
onde
os livros mais raros
se
 
do mar encontrarás
muitos
 
ficarás a saber
das marés e das ondas
dos fundos das planícies
das montanhas e dos abismos
que esconde
 
gastarás neles os olhos
e, quiçá, escreverás também tu
mais um livro
a juntar a tantos outros
 
porém
nada terás lido sobre o mar
se não fores capaz
de ler o rosto de um pescador
 
pensar-te-ás sabedor
na tua ignorância letrada
mais um
 
(torreira, companha do marco, 2010)

quando o mar trabalha na torreira_olívia borras


olívia borras

 

“é peixe do maaaaar!!!!”

e o mar corria
pelos caminhos
entrava nas casas
matava outras fomes

uma sardinha
para quantos ?
quantas sardinhas
para um ?

e de novo o mar pingava
da broa para o prato
era bebido
lambido
sorvido

mesmo que agora
já não corras
nem uses canastra
tens da xávega
uma alcunha marcante
olívia borras

(torreira, século XX)

Nota: o avô da olívia, o ti manel borras, falecido em 1947, é uma figura típica e controversa na torreira. foi pescador, sofreu naufrágios, mas terminou a vida alcoolizado, sendo sua a célebre frase ” se o mar fosse de vinho ia a pé até à américa”. 

fiz alguma investigação sobre a vida do ti manel e muito haveria para contar, desde o papel do vinho nas companhas, aos interesses dos arrais, dos vendedores de vinho “salroeiros” – de salreu -, à participação do ti manel nas festas da “gente fina” da terra” e ao apoio da família pinto ( fundadora do banco pinto & sotto mayor), que lhe pagou o funeral na condição de que este passasse à porta de sua casa.

história para outra altura

vai


ao fundo o mar

 
o despedir do sol
não é o despedir da beleza
procura dentro de ti
a luz que lá fora se
despede
 
tu és a luz
o caminho
também és tu
escuta-te
aprende-te
sê-te
 
desconheces-te tanto
é tempo de
caminhares para ti
no ir para o outro
 
as tuas mãos
acendem-se
ardem
são caminhos
de luz
 
vai