quando o mar trabalha na torreira_celestino


celestino

 

a vida fez de mim o que sou
o mar afeiçoou-me os traços
queimou-me o rosto
rasgou-me as mãos
ensinou-me a ser paciente
a só ter medo do medo

espero pelos dias de sol
pescando noutras águas

o mar é ainda o desafio
casa grande o barco alberga-me
o corpo da fúria das vagas
leva-me onde talvez peixe

deixo o meu nome escrito
na areia
junto ao de todos os meus camaradas
que o tempo levou
e o vento apagou

(torreira; século XX)

O último barco Avieiro da Chamusca


Num dos nossos encontros com a família Grilo, avieiros da Chamusca, surgiu o apontamento que agora apresentamos em Folha Informativa.

Trata-se da construção do “último barco avieiro”, do Sr. Jaime Grilo, conforme nos informou. Descobrimo-lo por acaso, na sequência da nossa visita à Chamusca, para assistirmos ao espectáculo “Tejo, Cais da Lezíria”, onde travámos conhecimento com o Sr. Presidente da Câmara e, posteriormente, com o Sr. Jaime.

Poderá não ser o “último barco avieiro” a ser lá construído, e não o será certamente, mas o Sr. Jaime assume-o como o “último da sua vida”. É uma pequena homenagem a esta família que tão calorosamente nos acolheu, aquando das nossas visitas em busca de “emoções dos avieiros”.

Aos autores desta Folha, Ana Paula Pinto e Carlos Vitorino, apresentamos os nossos sinceros agradecimentos.

O Gabinete de Coordenação

(Projecto de candidatura da cultura Avieira a património nacional imaterial e da Unesco)

 FOLHA Nº04-2012_O último barco Avieiro da Chamusca[1]

de passagem


agora é

o sábio

escuta o silêncio

lê na luz

estende as mãos à chuva

a verdade é-lhe estranha

aceita

a procura de

sempre

 

o sábio

sabe que não sabe

dorme por fora apenas

por dentro

no silêncio da sombra iluminada

tudo nasce e existe

 

o sábio

sabe ser agora

é essa a sua única sabedoria

se lhe perguntares

o que sabe

 

está de passagem

sempre

 

(buarcos)

vencer o mar (III)


praia de mira; companha do zé monteiro; barco de mar, s. josé

 
ainda o sol não
já o arrais lê o mar
na pauta das ondas
estuda ritmos e pausas
lisos, lhes chama
 
afinada a companha
estudada que está a sinfonia
todos a executam a seu mando
vão seguros
ao encontro do inesperado 
 
aprenderam a ler o mar
antes das primeiras letras
sem o saberem
deixam escrito na espuma dos dias
um canto imenso à grandeza
de ser homem aqui
onde por vezes parece que já não
 
 
 
 
 

quando o mar trabalha na torreira_ti henrique gamelas


ti henrique gamelas

 
na areia o fruto do lanço
o suor feito peixe

aos gritos das gentes
sucede agora o silêncio
morte lenta
na rede

peixe do mar
que a terra chegou

tudo isto me encontra
num mundo só meu
feito de mar e areia
castelos de que sou rei
senhor e plebeu

na areia
lentamente o movimento
desaparece
o brilho das escamas voadas
pousou e morreu

 
(torreira; século XX)

Ricardo Araújo Pereira: “A política morreu”


ricardo araújo pereira_foto tirada da net e editada

 

Não é político. Mas tem influência política, sublinha Nuno Artur Silva. O humorista Ricardo Araújo Pereira encerrou as “Desconferências” do São Luiz. E começou assim:

A política morreu porquê?

Várias hipóteses:

1. A primeira é a de que morreu porque deixou de ser necessária. O sonho dos nossos antepassados cumpriu-se. Os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagamos impostos como no Norte da Europa e temos a qualidade de vida do Norte de África.

Somos um País onde nem Américo Amorim se acha rico. E porquê? Porque somos dez milhões de milionários. Temos a vida que os milionários têm.

Cada um de nós tem um banco e uma ilha, é certo que é o mesmo banco e a mesma ilha, que é o BPN e a Madeira, mas todos os contribuintes são proprietários de um bocadinho.

2. A outra hipótese é: não há política porque só há economia. E enfim, a teoria medieval concebia apenas duas formas de governo: na primeira, o fluxo do poder era ascendente. O poder emanava do povo e o povo delegava nos seus representantes. Na outra forma de governo, o poder fazia o percurso inverso: emanava do príncipe e o príncipe delegava nas outras figuras do Estado. O nosso modelo é um híbrido, no sentido em que do povo emana o poder para eleger os representantes na figura de pessoas como Miguel Relvas e o seu vice-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. E há depois o príncipe, que é a troika, do qual também emana poder. E a troika delegou o poder nas mesmas pessoas. Portanto, há um engarrafamento de poder nesta gente e, como é evidente, o poder que vem de cima é mais forte do que aquele que nós mandámos para lá e é isso. O poder deles tem mais força. E o nosso… voltou para trás.

Há problemas no facto de a política ter morrido:

1. O primeiro é: a política percebe-se. Já a economia é muito mais difícil de compreender. Eles simplificam, isso é verdade. Por exemplo, primeiro os mercados começaram a dizer que nós éramos PIGS: Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha. PIGS, porcos! Depois disseram: Portugal é lixo. É uma metáfora muito repetitiva, mas é clara. Facilita a compreensão. Reparem, eu não sei ao certo o que é o “subprime”, nem o que são “hedge funds”, mas quando uma pessoa me diz: “tu és lixo”, eu percebo do que está a falar. Eu sei exactamente. Claro que é triste esta liberdade vocabular não ser permitida a quem está em baixo: a gente vê uma manchete a dizer: “mercados consideram que Portugal é lixo”, mas é impensável, na página seguinte, ter: “Portugal vai tentar renegociar a dívida com os chulos”. Isso não nos é permitido. Eles têm o capital financeiro e o capital semântico, tudo o que é capital, açambarcam, isto torna a vida difícil.

Mas também há vantagens no facto da política ter morrido:

1. Saiu agora um estudo que diz: “Portugal é uma democracia com falhas”. Em primeiro lugar, é importante elogiar um grupo de cientistas políticos que é tão eficaz que consegue olhar para Portugal e ver uma democracia com algumas falhas, e não uma falha com alguma democracia. É inquietante sermos uma democracia com falhas porque, até agora, éramos uma democracia sem falhas. Nós éramos felizes e não sabíamos.

2. Depois, levanta-se outra questão, que é saber se se pode dizer democracia com falhas. Eu estava convencido que a democracia ou é ou não é, no sentido em que também não se pode dizer “ele é ligeiramente pedófilo, ou ele estava mais ou menos morto”. Ou está morto ou não está! O facto de sermos uma democracia com falhas põe outro problema mais inquietante: a partir de quando é que uma democracia com falhas passa a ser uma ditadura com qualidades?

3. Outras vantagens: assim que Passos Coelho foi eleito, nós deparámo-nos com um problema interessante: Passos Coelho nunca fez nada na vida a não ser política, JSD, por aí fora. O homem licenciou-se com 37 anos, esteve ocupado a tratar de coisas políticas.

No entanto, não tem experiência política nenhuma, o que é difícil para um homem que só fez política na vida. Lá está, ele teve empregos, mas só em empresas administradas pelo Ângelo Correia. O primeiro emprego que teve que não foi arranjado pelo Ângelo Correia, foi este, que nós lhe arranjámos. Passos Coelho acaba por ser uma inspiração para todos os desempregados. É possível, sem grande currículo, com alguma sorte, arranjar um emprego, desde que, lá está, o outro candidato seja… o Sócrates. Para quem tem pouca experiência, governar com a troika é como andar de bicicleta com rodinhas e, portanto, tem esse lado vantajoso.

 4. Paradoxalmente, o nosso voto tornou-se mais importante. Antigamente votávamos nas eleições nacionais portuguesas, hoje votamos nas regionais alemãs.

 5. E é excelente por questões de respeito. Por causa da senhora Merkel. E digo senhora Merkel com propriedade. Não dizemos o senhor Sarkozy ou o senhor Obama. Nunca. Mas senhora Merkel dizemos. E temos em português aquela expressão, quando nos referimos ao passado: “o tempo da outra senhora”. Este é o tempo desta senhora. Saiu uma senhora e entrou outra senhora.

 Queria acabar dizendo que há esperança para nós. Porque a política parece ter morrido, mas ainda há réstias de política. Vou dar dois casos:

 1. O assassinato político voltou e isso significa que há política. Em 1908 mataram D. Carlos. Em 2011 foi abatido a tiro, também por razões políticas, o pórtico da A22. Há qualquer coisa no início dos séculos que excita o gatilho dos conspiradores. E alguém leva um tiro. Enfim, podiam ter morto o rei, mas entre D. Duarte e o pórtico, os atiradores optaram, e bem a meu ver, pelo que politicamente era mais relevante. E deram uma chumbada na portagem.

 2. A segunda razão pela qual devemos ter esperança é este incentivo à emigração constante, que é de facto uma medida política. Geralmente, o programa xenófobo, que é vasto e risco, consubstancia-se na frase “vai para a tua terra”, dita aos imigrantes. O nosso Governo tem este programa ligeiramente diferente que é: “sai da tua terra!”, dito aos nativos. Fica difícil saber para quem é esta terra afinal. Eu quero sugerir o Brasil como um destino interessante para nós. O Brasil é uma terra de oportunidades e possibilidades de riqueza, como demonstra o caso inspirador do Duarte Lima.

news de córdoba_nº56 enero 2012


foto de antonio gallegos

NOTICIAS DE FOTOGRAFÍA DESDE CÓRDOBA (ESPAÑA)  

REVISTA DIGITAL “NEWS” Nº 56 – ENERO 2012 (FELIZ AÑO NUEVO A TODOS)
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SALUDOS

 
AFOCO
 
 
 
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