o mar sempre


 

o maria de fátima a galgar a onda

o maria de fátima a galgar a onda

 

quantas vezes se faz
o barco
no fazer-se ao mar?
e os  homens
fazem-se?

ficar em terra
será destino outro
acomodado
de alguns

vencer a onda
ganhar o largo
ou pelo menos tentar
é desafio diário

ou morrer na areia

 

(torreira; companha do marco; 2010)

um dia foi assim


o fim de um sonho

sei do momento a beleza
bebo-a insaciável de tanta
sei-a agora só
sinto-a como se coisa irreal
fugaz sem palavras para

recordo-a sempre que
sei que jamais se repetirá
que vendidos foram os barcos
levados os mastros
cortadas as bicas
não sei se ainda pousam
amputados de si
na ria do faz de conta

um dia foi assim
na ria
o sonho brilhou

(ria de aveiro; torreira; 2010)

memórias de um almoço


 

dois bons amigos: nicole (falecido) e ti miguel bitaolra

dois bons amigos: nicole (falecido) e ti miguel bitaolra

 

a mesa
o respeito pelo pão
oferta merecida pelo trabalho
e a graça de deus
a fé e a coragem as armas
o respeito

a cabeça sob o sol inclemente
coberta sempre
descobre-se à mesa e na casa do senhor

não serei crente
mas crença maior não há
que a da gente do mar
a crença nestas gentes crente
é o abraço que nos une
rente ao mar

lavo-me neles

 

(torreira; companha do marco; 2010)

a caldeirada feita por mestres


 

os mestres cozinheiros: marco silva e agostinho trabalhito

os mestres cozinheiros: marco silva e agostinho trabalhito

 
os lanços da manhã deram raia, o almoço foi caldeirada.

o arrais marco silva e o agostinho foram os mestres cozinheiros, o resultado foi uma grande lanço sobre a mesa onde toda a companha se deliciou.

é tradição murtoseira que o cozinhar do peixe seja coisa dos homens, é tradição serem eles mestres cozinheiros de peixe. seja tradição ou não, o que é facto é que nuca comi caldeirada tão bem feita.

momentos como este são inesquecíveis

 

(torreira; companha do marco; 2010)

somos o que juntos


 

o virar do moliceiro no estaleiro antigo do mestre zé rito

o virar do moliceiro no estaleiro antigo do mestre zé rito

 

 

somos quantos quisermos
não quantos queiram que sejamos
seremos o que merecermos ser
ou o que de nós quiserem
se de nós a razão
se juntos
a força

ergueram o barco enorme
e eram minúsculos
juntaram-se
foram maiores que o barco
ergueram-no

aos homens da ria
aos homens do mar
ser só

é coisa estranha
(o virar do moliceiro no antigo estaleiro do mestre zé rito, torreira; 2009)

nada sou


Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é 0-ahcravo_dsc_6187_regata-2011abw-1.jpg

ainda havia um bando de cisnes em 2011, cada vez menor

venho de muito longe
de onde os meus de perdem
na memória de terem sido
por serem diminutos na sua grandeza
homens e mulheres da ria e do mar

venho de muito longe
não estranhes por isso o meu cansaço
o desalento
as velas pandas
sem ventos de sonho
prenhes de memórias apenas

nada sou
que importa de onde venho
trago-te estes momentos
porque

são grandes de mais
só para mim

(regata da ria; torreira; 2011)

recriação da xávega com bois, praia da vagueira, 2008


 

 

é duro, é muito duro, arrastar um barco, mesmo se pequeno

é duro, é muito duro, arrastar um barco, mesmo se pequeno

 

a praia divulgada no livro “safra”, hoje indisponível nas livrarias, que constitui uma referência foto jornalística sobre xávega, dando a conhecer com detalhe a safra da companha do joão da murtosa.

em 2008, estava eu a fotografar na praia de mira, quando me disseram que ria decorrer uma recriação na vagueira com juntas de bois.

assim o ouvi, assim fui.

recriação com alguns momentos muito bons, mas com outros, já o disse que foram pura diversão sem recriação.

este é um momento de recriação. já mostrei outros e ainda mais aqui virão

 

(praia da vagueira; 2008)