varela pècurto


varela pècurto

varela pècurto

hoje, dia 31 de maio de 2014, na feira da cultura em coimbra, foram comemorados os 50 anos das fotos aéreas da cidade, feitas por varela pècurto, com a exposição de fotos dessa viagem, repetida no cinquentenário.

com um percurso de vida cheio de história e de estórias, varela pècurto é um homem sem tempo e na companhia de quem o tempo se some.

como as cerejas…. um além tejano em coimbra, é sempre um além tejano

(Eduardo Francisco Varela Pècurto nasceu em Ervedal do Alto Alentejo a 27 de Abril de 1925. Fez o liceu em Évora onde casou com Gláucia Maria Farracha que muito o ajudou ao longo da sua carreira profissional. Nesta cidade foi iniciado na sua profissionalização com David Freitas e Eduardo Nogueira.
Em 1950 fixou-se em Coimbra para dirigir uma secção fotográfica na Livraria Atlântida, passando depois para a “Hilda” onde foi sócio gerente, formando e orientando durante meio século este espaço dedicado à fotografia. Fez parte do «Grupo Câmara» que ajudou a desenvolver individual e colectivamente conseguindo-lhe renome internacional. Concorreu a salões de arte fotográfica onde conquistou placas, medalhas de ouro, prata e bronze e objectos artísticos, destacando os realizados em Portugal, África do Sul, Alemanha, Angola, Argentina, Áustria, Bélgica, Chile, China, Cuba, Dinamarca, Espanha, França, Índia, Inglaterra, Jugoslávia, Marrocos, União Soviética e Uruguai.

https://www.facebook.com/eduardo.pecurto.5/info)

continuo eu


 

como escreveu o poeta "ei-los que partem"

como escreveu o poeta “ei-los que partem”

que mais me resta senão
inventar
dia a dia o dia em que
pinto tudo de novo
como se casa minha
habitada por

e vou por aí
com os sonhos no peito
emprestando a ilusão
de que tudo é belo
e a serenidade algo tão natural
como o seu inventar

aquietadas as angústias
abro os braços
e abraço o vazio

continuo eu

 

(ria de aveiro; torreira)

aparelhar


 

os braços encaminham a manga

os braços encaminham a manga

 

na zorra as mangas e o saco secos, estão prontos para serem de novo carregados no barco e ao mar retornar.

o lanço começa agora, no aparelhar (dispor redes e cordas no bojo do barco).

“quem vai ao mar avia-se em terra”

os homens que vão ao mar, são os que sabem do aparelhar, na areia carreiam as redes, para os que dentro do barco as acomodam como manda a arte.

braços e mãos são caminhos.

 

(torreira; companha do marco; 2011)

a memória


 

regata de moliceiros, festa do emigrante 2007

regata de moliceiros, festa do emigrante 2007

estou cansado
também eu tenho
direito a não escrever
a ficar assim sem dizer nada
fazendo de conta que digo
só para que penses
que leste

é melhor ficar por aqui
sem nada ter dito
no engano de escrever
só para que julguem
que ainda não morri

o cansaço não chega
à memória
isso vos ofereço hoje

 

(murtosa; bico; regata moliceiros, 2007

a ria e


 

um fim de tarde no chegado

um fim de tarde no chegado

eu e ninguém
uma multidão dentro de mim
sentires feitos palavras
reconstruindo silêncios
repensando tempos
esperando

eu e ninguém
somos muitos

condenados a vencer um dia
a saber esperar a aprender a não
eu e ninguém
sabemos que somos muitos
antes e depois
os bastantes para sermos um dia

eu e ninguém
somos muitos

habitamos um tempo para além do tempo
somos o tempo que se constrói dentro do tempo
condenados estamos
a vencer um dia
a vencer

 

(murtosa; chegado)

contem comigo


 

 

a cabritar no cabeço

a cabritar 

 

escritas na água
as palavras boiam nos dias
ilusão ser de terra o lugar onde
certa a incerteza

os dias não são o que
serão somente se

estendo o olhar até onde
procuro insisto e resisto
estou vivo demais
para sucumbir
arrastando desânimo pelas horas

venho de longe para longe vou
deter-me-ei tão só quando
já não for

até lá
contem comigo
de pé

 

(pesado o labor de quem da ria tira o sustento, enterrado na lama)

as novas muletas


 

o maria de fátima vai fermoso e seguro

o maria de fátima vai fermoso e seguro

 

o barco entra agora no mar, apoiado numa estrutura rígida, as 2 muletas fixas nas cápsulas metálicas, e deixou de ser necessária a regeira.

note-se que, pela mão do arrais, começa a sair o reçoeiro e, ao fundo, a rebentação no “cabeço” – praia, lago, cabeço.

 

(torreira; companha do marco; 2011)

do hoje


 

 

torreira, havia bois no mar

torreira, havia bois no mar

faz-se a memória
do ser e do sentir
do estar e do ter estado
do querer e do saber
todo o dia será memória
se memória do dia se fizer

és o que foste
serás o que és
em ti nada começa
e nada acaba
és apenas tu

nunca apenas foi tanto

contamos contigo
para continuarmos a ser
mais que memória lembrada
a vivida sentida sabida

vida
(torreira, no tempo dos bois, a memória aqui)