por vezes toco a beleza


de tudo me fica
a tentativa vã
de querer ir mais fundo
à raiz das coisas
onde mora a memória
a casa se iniciou

sou apenas um que tentou
mais um que

semeio palavras e imagens
sonhos e amarguras
tempo a esmo
de histórias começadas e
nunca acabadas

acabarei
a boiar algures numa laguna
de tempo sem tempo
onde não serei
sequer coisa digna de se ver

olho a ria e admiro a beleza
das pequenas coisas
reencontrando nelas o imenso
do que vou perder

será sempre assim

(murtosa; cais do chegado)

2 thoughts on “por vezes toco a beleza

  1. Amargo, dolorosamente amargo em tempos conturbados, em tempos que um esgar de sorriso é tão deliciosamente recebido por quem aqui passa! Talvez para nos enganarmos, ou não, talvez para fazer jus ao que é belo como a fotografia que acabas de publicar. Um abraço grande, António!

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