poema
não sei se escrevi
algum
porém vivi muitos
(mariscador de cabrita alta; deitar fora conchas; torreira; 2013)
NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias
NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias
NÃO
posso calar tudo o que dentro
de mim ferve e se impõe
contra o silêncio a prepotência
NÃO
o ter armas poder dinheiro NÃO
tem força de lei mas sim
marginais loucos engravatados
NÃO
aceito a conversão de dólares
em crianças assassinadas
o lucro cego pago com sangue
NÃO
chamem-me perigoso terrorista
escrevam o meu nome
a vermelho mas ESCREVAM que
NÃO me verguei nunca
NÃO
ao GENOCÍDIO em GAZA
ao governo de netanyahu
NÃO à GUERRA SIM à PAZ
PALESTINA LIVRE
(regata de bateiras à vela; s. paio; torreira; 2017)
os bárbaros vestem-se de automóveis oficiais
seguranças aviões têm casa em paraísos fiscais
os bárbaros assassinam friamente
em nome do deus do dinheiro
sacrificam o futuro à ganância efémera
os bárbaros caminham sobre corpos
esfacelados de crianças mortas
de fome de tiro certeiro de estilhaços
os bárbaros apertam mãos abraçam
recolhem apoios de gente aparentemente limpa
com valores escondidos nos bolsos
os bárbaros mandam comandam fazem
comem em mesa farta e nada vêem para além
do prato cheio regado a sangue inocente
os bárbaros são presidentes eleitos governam
ditam leis aprovam decretos e orçamentos de guerra
fracos os cúmplices calam consentem e sorriem
os bárbaros roubam com um sorriso cândido
iludem-se patrões de um mundo sociedade anónima
os bárbaros morrerão e o seu legado será
destruição e morte negação de humanos terem sido
(corrida de chinchorras a remos; s. paio; torreira; 2018)