os meus amores
são a minha geografia
continentes ilhas
e mar muito mar
(xávega; o arribar da manga mão de barca; torreira; 2016)
caminho por aí face aberta ao vento olhos abertos ao mundo coração em forma de gente ásperos são os caminhos a limpidez de que falava sophia é porto de abrigo para fugir deste cozido à portuguesa onde abunda a carne de porco o arroto e o cheiro a vinho pútrido tirem-me daqui alguém disse mas ninguém nos pode tirar de nós
(o arribar da mão de barca: torreira; 2009)
auto-retrato (3)

em cima do barco o ti augusto arruma as mangas
do entretecer dos fios
se faz a corda
aparelha-se o barco
na vida só sei do reçoeiro
a mão de barca
crêem alguns que um dia
aparelha-se o homem
do entretecer dos dias
se faz o tempo
(torreira; 2014)
…………………
notas
reçoeiro – a corda que fica em terra
mão de barca – a corda que o barco trará e fechará o lanço
para o joaquim rodrigues
(massa)
queria dizer-te
que te admiro
massa
não porque cantes
melhor que o zé cabra
pior é difícil
tu nasceste para cantar
não porque a trabalhar
o faças como poucos
és energia pura
não pela tua alegria
os teus malabarismos
com o bordão na praia
és um artista nato
admiro-te
pela tua força interior
pelo modo como venceste
onde tantos sucumbem
tu és enorme massa
da tua fibra muitos
houvessem
massa assim é outra massa

(torreira; arribar da mão de barca; 2012)
aparelhar da mão de barca

e não são de cânhamo estas cordas
o massa e o bruno colocam um rolo de corda da mão de barca dentro do barco.
a cala da mão de barca fica debaixo do paneiro da proa até ao traste da proa

encontram-se as mãos no esforço, a companha é isso mesmo
(torreira; companha do marco; 2009)
muleta, mão de barca, regeira

anda areia no ar junto com poalha de água
recordando
quando os barcos eram “empurrados” por uma muleta como a que se vê nesta foto, o barco era mantido na perpendicular à praia, com a ajuda de duas cordas:
– a mão de barca, cala do aparelho que ficava em terra, que o arrais amarrava à bica da ré e ia largando conforme as possibilidades e as necessidades
– a regeira, corda presa ao golfião de bombordo da proa e que estava preso a um bordão enterrado na praia e da responsabilidade de um camarada da companha (enquanto foi vivo e lá trabalhou, era o ti antónio neto que o fazia)
a terceira corda que se vê na foto é a que está amarrada à muleta, para quando o arrais a soltar poder ser recuperada para terra.
vê-se areia por todo o lado porque o motor está a trabalhar e quando a onda recuou deixou-o em seco e o barco não largou como era de esperar.

a cores as cordas são bem visíveis
(torreira; companha do marco; 2009)