
a manga do reçoeiro a passar no alador
a manga do reçoeiro a passar no alador
dos sábios
o alar da manga do reçoeiro
o rigor das palavras
com que lavram o silêncio
desenham as perguntas
(torreira; 2016)
auto-retrato (3)
em cima do barco o ti augusto arruma as mangas
do entretecer dos fios
se faz a corda
aparelha-se o barco
na vida só sei do reçoeiro
a mão de barca
crêem alguns que um dia
aparelha-se o homem
do entretecer dos dias
se faz o tempo
(torreira; 2014)
…………………
notas
reçoeiro – a corda que fica em terra
mão de barca – a corda que o barco trará e fechará o lanço
todo o tempo
o carregar do saco
olhar os rostos
lembrar os nomes
dizê-los
os amigos vêm
pela mão
das palavras
pelo olhar
que os resgata
todo o tempo
é agora
(torreira; 2012)
mais um
o arribar da manga do reçoeiro
o que fui
leva pela mão
quem sou
olhos meus
sempre
até quando
o mar as gentes
os rostos
os gestos as artes
mais um
(leirosa; 2017)
para a ana
os anos passaram
rolos de corda
de uma outra safra
lembro-me de ti
e do alfredo
a teus pés menino
quantos rolos ana
quantas safras
o alfredo a crescer
a cada ano
um homem grande
o teu filho
menino por dentro
a sorrir
hoje lembrei-me de ti ana
(torreira; 2010)
o meu amigo ricardo
no reçoeiro, o esforço quando a manga chega e é urgente trazer o saco para terra, a máquina não basta.o homem sempre
14 anos de idade, 11 anos depois de o ter conhecido.
o homem e a máquina, a máquina do homem, do tempo, do esforço, do crescer assim rente ao mar, com o mar nos olhos a invadir o sangue.
o puto que já foi, no homem que é puto ainda, para mim
(torreira; 2016)
no reçoeiro, o esforço quando a manga chega e é urgente trazer o saco para terra, a máquina não chega.
resistir
o ti américo na manga do reçoeiro, no alador
a manga no alador
corre
o fim do lanço quase
os anos pesam
mais a rede
mais a necessidade
a língua espreita
o esforço
as ganas de continuar
um homem não é
uma máquina
resiste resiste resiste
está vivo muito
conhaque é conhaque, serviço é serviço
(torreira; companha do marco; 2015)
até um dia
o stalone agarra o calão e o ti américo desata o nó que prende a corda do arinque do reçoeiro
maiores que o mar
efémeros como a espuma
enterram na areia
os pés
espero os dias de sol
encharcados de sal
para os reencontrar
um dia
(torreira; companha do marco; 2012)