inexplicável
não me perguntes
porque escrevo
não me perguntes
porque estou vivo
em tudo
muito pouco
é explicável
inexplicáveis os dias
onde sou
e tudo acontece
nem só a fé
é mistério

o tino a reparar a cabrita
(torreira; 2013)
inexplicável
não me perguntes
porque escrevo
não me perguntes
porque estou vivo
em tudo
muito pouco
é explicável
inexplicáveis os dias
onde sou
e tudo acontece
nem só a fé
é mistério

o tino a reparar a cabrita
(torreira; 2013)
eis o poema
semeia as palavras
ao sabor do sentir
sê nelas
revê-as com a razão
encontra-lhes ritmos
os teus
refaz depois a sementeira
mas cuida de quem
a poderá colher
de nada servirá
o que semeares
se não for colhido
caminha pela areia
carregado e sereno
eis o poema

(torreira; 2012)

cipriano brandão (gamelas)
cipriano
não sei onde estás
sei onde te deixaram
cipriano
não nos vamos
encontrar mais
mas cipriano
fazes parte
da minha torreira
farás sempre

o cipriano, no mar, em 2010
(cipriano brandão_gamelas, torreira; 2010)
destino de pescador

à memória de cipriano brandão (gamelas)
não têm nome
são pescadores
só o mar a areia e o norte
os conhecem
quando por feitos
direito tiveram
a nome e o publicaram
a terra esqueceu-os
partem sempre um dia
humanos que são
perdem-se no nevoeiro
que sobre eles lançam
aqui estão todos
os que foram
os que ainda são
os de amanhã
não têm nome
não sei se o terão

à memória de cipriano brandão (gamelas)
(torreira; 2016)
o homem

foto de 2010
as palavras poucas
a ironia fina
as convicções
o saber ser
o estar sempre
o dar o rosto
os braços abertos
as mãos de dar
o homem
(torreira)
o meu amigo agostinho canhoto

(torreira; 2016)
unem-se na partida

o nelson arruma as redes, vai para o mar
arrumar as redes
é arrumar os dias
é tempo de partir
de ir ganhar a vida
que na ria se gasta
o arrasto o bacalhau
a pesca do alto
na ria não se faz vida
a desunião desfaz a força
unem-se na partida

só parte quem ficando não faz vida
(torreira; 2016)
ti antónio neto

como sempre, calado a olhar para o longe
escrevo mar memória
cansaço vida morte
conto o tempo
os dias onde já não
sei ti antónio
que já partiu
tarefa pesada esta
de carregar certos dias
como se menos um
recordo então os rostos
dos que partiram
vejo-os sorrir de novo
reinvento o tempo
um tempo de sol e mar
o nosso tempo
revejo-o ti antónio

ao mar ao fundo continuará sempre
(torreira; companha do marco; 2009)

ser ainda maior
ser maior que o medo
é arte de pescador

ah! mar dum raio
(torreira; companha do marco; 2015)
o meu amigo carlos padeiro

começa-se cedo aqui
aulas acabadas
abertas portas e janelas
a ria de novo
aqui onde
de água o chão
e infinito o tecto
os tempos são
de marés e sol
os olhos prendem-se
nas redes
onde peixe mais tarde
não é este o lugar
da palavra
por isso do carlos
escuto o silêncio

férias da escola é na ria
(torrreira; porto de abrigo; 2010)