a peixeira do ti manel viola


a versão online do meu último livro (exemplar único)

peixeira ou saltadoiro – murtosa, bestida, 2009

em 2009 o ti manel viola tinha 88 anos e ainda ia à pesca. a arte que ele e o filho alfredo usam responde por diversos nomes: peixeira, salto, saltadoiro.

se às diferentes formas de pescar se chamam artes, não conheço nenhuma outra a que tão merecidamente se lhe aplique a designação.

tanto quanto sei, só existe uma bateira com esta arte na ria de aveiro, a do ti manel viola na bestida, murtosa.

é uma arte de emalhar dedicada prioritariamente à pesca da tainha.

saímos da bestida ao meio dia (tínhamos de chegar aos possíveis pesqueiros com a maré a parar, requisito necessário à arte) e regressámos às 19h.

quando o alfredo, que ia ao motor, sabia que se aproximava um possível pesqueiro, parava o motor e começava a fazer deslizar silenciosamente a bateira impulsionando-a à vara.

se via taínhas a voz era : “estou a sentir peixinho” ou “estou a ler a ria e vejo peixinho”. lançamos a rede pai? e o ti manel: tu é que sabes filho.

se sim, o ti manel lançava as redes e o filho ia guiando a bateira de forma a que se constituísse o cerco.

depois de armada o aparelho, voltava-se ao princípio (o curral), batendo sempre com a vara na água, do lado de fora da rede, para empurrar o peixe para a malha.

enquanto se bate na água, o peixe ou fica emalhado no cerco, não muito, ou vai caminhando em direcção ao curral.

no curral, ou fica emalhado na rede de tresmalho que constitui o curral, ou, sendo a tainha um peixe que salta bem para fora de água, tenta passar por cima do tralho da cortiçada caindo, para seu mal, na manta, rede fixa na horizontal paralelamente ao curral.

enquanto se vai rodeando o cerco os olhos vão sempre acompanhando o comportamento do peixe. vai-se assim calculando a parte visível do lanço.

depois de chegar ao extremo do cerco, que fica perto do curral, começa-se a colher o cerco (cerca de 200 metros de rede) até se chegar de novo ao curral.

nesse dia fizemos 3 lanços. desde o montar do curral e da manga, passando depois pelo lançar do cerco, até ao final de cada lanço, decorrem cerca de duas horas.

o ti manel e o filho alfredo têm lugar de venda na praça de pardelhas e aí vendem aquilo que pescam, por isso só vão à pesca na véspera dos dias de feira, para garantirem peixe fresco ao freguês.

infelizmente a taínha é um peixe de pouco valor e o alfredo disse que quando o pai deixasse de ir pescar, acabaria para ele a pesca. em 2012 continua, no entanto, a pescar embora com outro camarada.

o saltadoiro dos violas:

o curral é de 7 varas, de cerca 1,50m e nelas, e em outras tantas em paralelo, se prende a manta. é uma arte de 14 varas.

a manta é presa logo à primeira vara, tem uma malha de 0,06m e uma largura de 1,20m

o curral tem um comprimento de cerca de 15m, é uma rede de tresmalho, com altura de 1,20 metros em que o miúdo tem uma malha de 0,08m

o cerco tem perto de 200 metros de comprimento, é uma rede simples, de um só pano, com a altura de 1,20m, uma malhagem de 0,06m e termina com uma chumbada que o fixa ao fundo. entre as duas extremidades não há qualquer fixação, dai a necessidade de se fazer o lanço com a maré quase parada, para que o cerco se mantenha.

(murtosa- torreira – algures no canal de ovar – agosto 2009)

o vídeo

os moliceiros têm vela (559)


o meu reino não é 
deste mundo
dizem que disseste

abro parêntesis
gosto muito de ler
vivo tudo o que leio
fecho parêntesis

olha meu caro
embora não tenha reino
e seja apenas aposentado
também não sou deste mundo

expulsaste os vendilhões
do templo dizem
melhor fora não que agora
não há templo que lhes baste

as águas por onde dizem
que andaste agora são
de sangue e não há peixes
pequenos só tubarões

abro parêntesis
não voltes outra vez
deixa-te estar sossegado
em belém só pastéis
fecho parêntesis

a realidade não é
um romance
é uma tragédia

(ria de aveiro; regata da ria; 2013)

os moliceiros têm vela (321)


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zé rebeço

o ti zé rebeço, com quase 80 primaveras, é o exemplo vivo do murtoseiro: ama a ria, lavra a terra e soube o que foi ter emigrar para vingar na vida.

antes de emigrar foi moliceiro e mercantel desde miúdo.

é dono do moliceiro “A. Rendeiro” e vai estar na regata do bico, domingo dia 5.

orgulho-me de o ter como amigo

(torreira; regata da ria; 2013)

os moliceiros têm vela (319)


vão chamar “barqueiros” …….

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a regata da ria 2018, dá para escrever uma história.

quanto à divulgação – primeiro momento – foi a pior de sempre e provavelmente a mais cara. só no dia 22 começou a ser divulgada e na véspera não havia um cartaz sequer na torreira. mas temos uma parceria com uma empresa de liverpool experiente em eventos deste género. paguemos!

os moliceiros uniram-se, falaram e conseguiram aumentar os valores dos prémios, deixando o intermediário próximo do que merece. ainda é muito!

à regata faltou vento e ir contra a maré e sem vento ….. houve quem se cansasse e vai de “botar” motor. quando já eram uns quantos, a organização achou por bem dar por terminada a regata e foram todos a motor até aveiro. mas foi preciso que os moliceiros mostrassem, usando o motor, que assim não chegavam a aveiro, para que a organização se decidisse. custou, mas deu por ela!

hoje em aveiro, por decisão do júri, foi considerado que não haveria classificação de regata e o valor do prémio global seria distribuído pelos que ainda não se tinham posto a motor até ao momento de a regata ser dada por terminada.

para terminar, e porque quase tudo o que começa mal, mal acaba, aos moliceiros – homens- chamou a organização “barqueiros”!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

foi então que se perdeu um trovão e a possibilidade de uma faísca iluminar certas cabeças.

vão chamar “barqueiros ” ………

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(ria de aveiro; 30 junho 2018)