agostinho trabalhito


                                                    agostinho trabalhito (canhoto): 2010

 

do agostinho trabalhito (canhoto) muito haveria que contar, mas fico-me pelos últimos anos.

trabalhou na companha do falecido zé murta e trabalha agora na companha do marco. a corda ao pescoço serve para atar a manga antes do calão e, assim, impedir que alador “coma” e quebre o calão.

pelo caminho lavou pratos num restaurante e dedica-se à pesca à cana (ainda de bambu) para apanhar peixe mais “grosso” que aumente a dispensa da família ou para vender aos restaurantes.

dos muitos irmãos que tem não posso deixar de recordar dois já falecidos: o zé trabalhito e ti antónio trabalhito, ambos homens de mar, ambos homens da torreira

( torreira_companha do marco_2010)

o alfredo


                                                         alfredo amaral; 2010

conheci o alfredo ainda miúdo aos pés da mãe, na areia, a ver “trabalhar o mar”.

o tempo passou e hoje é um homem de força, dedicado ao trabalho e sempre com uma piada fina na ponta da língua.

quem nasce ao pé do mar e aprende a caminhar na areia, acaba sempre a trabalhar na xávega, alguns partem para o arrasto, de inverno, outros andam na ria e no mar.

o alfredo é vê-lo feliz a arrumar as cordas em cima da zorra e, enquanto o barco está no mar, a conviver com todos os camaradas de igual para igual.

quem quer vence o que tem. quem não quer morre do teve.

( torreira- companha do marco- 2010)

alar e colher com o padas (IV)


a paula a safar as redes; 2010

é a paula, mulher do padas, não pára de safar as redes de algas, caranguejos e mesmo dos chocos ou linguados que venham emalhados.

o maia difícil de safar são os caranguejos, que com as tenazes se agarram às redes e como tempo não é coisa que sobre só há uma maneira de os fazer largar a rede, torcendo-os e arrancando-lhes as patas.

aqui termina esta série sobre a solheira. outros registos, pois muitos tenham, aparecerão de tempos a tempos.

(ria de aveiro_canal de ovar)

carlos aldeia


carlos aldeia; anos 90

 

amanhã outro dia
será

é assim no mar
vive-se cada dia como se
o primeiro
o último

amanhã outro copo
virá

é assim na tasca
um copo de ressaca
uma onda varre o corpo
uma carta sai do baralho
uma noite passa no tempo

amanhã outra faina
será

vida de pescador
é percorrer em terra
caminhos que no mar rasgou

e eu sou

alar com padas (III)


padas e léo (2010)

 

pai e filho (padas e léo) vão alando a rede, espreitando a ver se, ainda na água já se distingue algum choco ou linguado.

por vezes são apanhados com enxalavar quando se prepara para fugir mesmo na beira do barco.

em tempo de fartura de choco, ele é vendido ao comprador com quem têm contrato a 3€ o kg, quando começa a escassear às vezes lá chega perto dos 5€. O comprador ainda desconta no peso, dependendo da quantidade, até 1kg para a água que pode vir no latão.

quanto ao linguado, acreditem que é verdade, nunca ultrapassa os 5€ o kg, mas raramente lá chega.

para que saibam que quem ganha não é o pescador e quem sofre no preço de tanta intermediação é o consumidor, que pensa que os pescadores têm de viver bem.

façam as contas ao que pagam, no mercador, no supermercado e nestas referência que vos deixo.

(ria de aveiro- canal de ovar)