sonhar

ser eu criança
o mundo
caber-me na mão
sonhar é o caminho
onde
começa o amanhã
ser todo o tempo
agora
eu criança sempre

(torreira; regata da ria; 2013)

o moliceiro “Dos Netos”
sonhar

ser eu criança
o mundo
caber-me na mão
sonhar é o caminho
onde
começa o amanhã
ser todo o tempo
agora
eu criança sempre

(torreira; regata da ria; 2013)

o moliceiro “Dos Netos”
moliceiros na ria

lavrar a ria
foi sina de um povo
que atravessou o mar
reviver
a memória as raízes
é sermos
escrevê-lo
é haver aqui
neste tempo hoje
moliceiros na ria

(torreira; regata da ria; 2010)

aturem-me

escrever no tempo
em que me inscrevo
é recusar ser folha
que o vento leva leve
é ser ainda a pedra
na vidraça dos dias
no charco dos conformados
dizer com voz firme
estou vivo porra
recuso-me a morrer
antes
de estar morto
aturem-me

(torreira; regata da ria; 2013)
ser da terra

ser da terra
não é por nela
berço ter tido
ser da terra
porque herdada
sabe a monarquia
em tempo de república
seja a gente da terra
a fazer-te um deles
ou negar-te
sê e faz
hoje sou vela e vento

(torreira; regata da ria; 2010)

do escrever

esqueci-me do que
me esqueci
escrever o esquecido
é o como destas palavras
pergunto-me se o quê
também

(torreira; regata da ria; 2013)

o homem da beira-ria

tão pouco uma palavra
e tanto nela se não dita
se negada depois de dada
aqui os homens
têm o tamanho da sua palavra
negá-la é negarem-se
o homem da beira-ria
é homem de palavra
ou ave de arribação

(torreira; regata da ria; 2010)
ao tempo

o moliceiro “A. Rendeiro” do ti zé rebeço
quando for com o vento
ficarão palavras e imagens
sonhos ilusões muitas
ilusões muitas
eu quase todo sem ser já
sussurros de água
na boca de um barco morto
os gestos o ter feito
o que me fizeram
deixo ao tempo o juízo
ao tempo
que outro deus
não conheço

o moliceiro “A. Rendeiro” do ti zé rebeço
(torreira; regata da ria; 2014)
a matemática da vida
(para o ti manel valas)

o moliceiro “manuel silva” do ti manel valas que, com o o zé pedro a timoneiro, ficou em 2º lugar
somar tudo
estar vivo é isso
a matemática
é simples
ao final da soma
chamam total
e subtraem-te

o moliceiro “manuel silva” do ti manel valas que, com o o zé pedro a timoneiro, ficou em 2º lugar
(regata da ria; 2013)
a escrita dos dias

reter
os gestos os rostos
as fainas os falares
as pegadas os rastos
não os meus não
por entre os dedos
o norte corre
a memória com ele
ficam as palavras
as imagens
um tempo descrito

(regata da ria; 2010)

