
os moliceiros têm vela (278)


escrevo-me

o “bulhas”
escrevo-me d e v a g a r
vermelho
sangue de mim
palavras
deitadas ao vento
na ria

(regata da ria; 2017)

o A. Rendeiro já claramente em 1º lugar
Participantes
Barcos moliceiros classe A – tamanho tradicional
A. Rendeiro
Marco Silva
Um Sonho
Zé Rito
O Amador
Bulhas
S. Salvador
Dos Netos
Câmara Municipal da Murtosa
Barcos moliceiros classe B – mais pequenos
Ecomoliceiro
Sermar
(ao todo 11 barcos)
Classificação e prémios de regata
Classe A
1º – A. Rendeiro – 150 euros
2º – Marco Silva – 100 euros
3º- Um Sonho – 50 euros
Classe B
1º – Ecomoliceiro – 150 euros
2º – Sermar – 100 euros
Classificação e prémios de painéis ( só classe A)
1º – A. Rendeiro – 300 euros
2º – Marco Silva – 250 euros
3º- Bulhas – 200 euros
4º – Zé Rito – 150 euros
5º – O Amador – 100 euros
Algumas contas
Prémio de participação : 700 euros ( 9 classe A). Total 6.300 euros
Prémio de participação : 600 euros (2 classe B). Total 1.200 euros
Prémios de classificação: 300 euros ( classe A) ; 250 euros (classe B)
Prémio de painéis : 1.000 euros
Total do valor entregue aos moliceiros: 6.300+1.200+300+250+1.000 = 9.050 euros
E, agora, pensemos um pouco
Nos últimos anos a transferência da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro – para a comissão organizadora da regata da ria – tem sido de cerca de 17.000 euros, e este ano terá sido, pelo menos, o mesmo.
A questão em que eu gostava que meditassem é:
11 MOLICEIROS PARTICIPARAM NA REGATA E RECEBERAM 9.050 EUROS.
PARA ONDE FOI O RESTANTE??????????????
A BRINCAR, A BRINCAR PODEMOS ESTAR A FALAR DE CERCA DE 8.000 EUROS
Assim sendo, apetece perguntar
QUEM GANHA COM A REGATA DA RIA?
OS MOLICEIROS NÃO, DE CERTEZA!
SERÁ QUE NINGUÉM MOSTRA AS CONTAS?

os 3 primeiros na recta final da regata
é urgente uma flor

depois de tudo ter ardido
é urgente uma flor
todos
todos merecem uma flor
é urgente reaprender
a florir
é urgente uma flor

(regata da ria; 2010)

hoje é o primeiro dia
de luto
façamos dele
mais um dia de luta
pelo planeta
pelos povos
contra a estupidez cega
do lucro desenfreado
pelo cumprimento
do acordo de paris
hoje é o primeiro dia
de luto
mas não me basta que o seja
quero mais
hei-de querer sempre mais
um dia de luta

(regata da ria, 2010)
aos que morreram pela mão do fogo

aos que morreram pela mão do fogo
e foi atroz a sua morte
nada os trará de volta
mas que fique claro
que nada acontece só
por vontade da natureza
há mão do homem
a forçar o evitável
quando se lembrarem deles
lembrem-se do acordo de paris
da urgência de o cumprir
aos mortos
nada os trará de volta
aos vivos
que lhes sirva de lição
isto anda tudo ligado
escreveu o poeta há muito
mas podia escrevê-lo hoje

(regata da ria; 2009)
há eleições? repara-se o moliceiro!
“notícia é quando um homem morde num cão, e não o contrário”

o moliceiro da câmara da murtosa com duas velas
haverá alguns dias aparecia na página do facebook do município da murtosa, uma publicação com o seguinte título “BARCO MOLICEIRO DA CÂMARA DA MURTOSA EM MANUTENÇÃO NO ESTALEIRO DA PRAIA DO MONTE BRANCO” -https://www.facebook.com/municipiodamurtosa/posts/1349085255169813:0. amigos houve que partilharam esta publicação como se de algo extraordinário fosse …
e não é que é mesmo! é que não se percebe porque é que aquilo que todos os moliceiros resistentes fazem nesta época do ano, reparação e manutenção – aproximam-se as regatas –, há-de ser notícia? será por ser o moliceiro da câmara municipal? só se for.
no entanto é capaz de ser mesmo notícia relevante, será que não houve reparações desde 2013? se houve, desculpem mas não dei por ela, nem foi objecto de qualquer publicação na mesma página….
(um amigo segreda-me: você fala porque não vive cá…..)
recordo agora que em 2013 fiz no meu blog, e no facebook, uma publicação sobre uma situação análoga, então com publicação em jornal – ainda não havia página no facebook. vejam o que se passava, leiam:
coincidências! 2013 e 2017 são anos de eleições autárquicas. não é que na murtosa esteja em causa a mudança de executivo, mas sempre são eleições e eu, neste caso e a bem do moliceiro municipal, começo a pensar que devia de haver eleições todos os anos.
lembro-me de em 2012 não ter havido regata da ria por falta de fundos, de se ter feito uma manifestação, da torreira a aveiro, com alguns moliceiros, de caras tapadas com plástico preto, bandeira preta e um cartaz a dizer “NÃO MATEM OS MOLICEIROS”.
em 2013 fez-se a regata e o candidato à câmara de aveiro, ribau esteves, até veio à torreira dar a partida. coincidência?
(o amigo insiste: você fala porque não vive cá…..)
quanto a outros parágrafos da publicação, que davam pano para mangas, quero só tocar no que mais me interessa, o apoio aos donos dos moliceiros resistentes. escreve-se, e transcrevo, “ No último ano, os prémios atribuídos pela autarquia ascenderam, na globalidade, a mais de 10.000 euros”. tanto dinheiro! quanto é que dá por barco? chega para garantir os custos de reparação e pintura, sem falar já nos de manutenção? (nunca menos de 1.500 euros, pelo que me dizem) mas o valor desta reparação e pintura do moliceiro municipal deve servir de indicador e ajudar a ver quanto custa.
(algures em pardelhas há um homem que deixa a porta e, no sossego do escritório, começa escrever: este turista que vem de coimbra tirar umas fotos a correr pela praia …)
encontramo-nos na primeira regata, a da ria.
(nota: no que diz respeito ao museu estaleiro do monte branco – é assim que é designado na página da autarquia – já me pronunciei em tempo sobre ele https://ahcravo.com/2015/01/31/cada-cavadela-cada-minhoca/)

e terminará em quarto lugar
(regata da ria; 2014)
a memória das imagens

o “A. Rendeiro” do ti zé rebeço a caminho da meta
são o que são
e não querem mais
amam o que amam
e fazem porque
une-nos o abraço o gesto
o sermos simples
como a palavra
que aprendemos sagrada
fiquem para outros os palcos
homens simples
outra arte não têm
senão a de saberem
que entre eles e o barco
só a morte ou falta de dinheiro
se pode interpor
vou com eles em busca
de um futuro possível
mensageiros que são
de uma tradição secular
e ter eu uma máquina
que dispara uma bala para muitos
desconhecida ou ignorada
a memória das imagens

quando três são um
(torreira; regata da ria; 2010)
notas de um retirante

a realidade é mais surreal
em 2012 não houve regata da ria. o relato dos porquês, dos como e dos quem, está feito no meu blog, na publicação:
e outras, anteriores e posteriores. é uma questão de pesquisar.
a terminar o ano, mais umas dicas para a história dos moliceiros:
quando em 2012 a regata não se realizou, a entidade promotora era o “turismo de aveiro” e a organizadora a habitual “associação dos amigos da ria e do barco moliceiro”.
quando o turismo de aveiro soube pela imprensa qual o valor que estava em causa, terá dito que afinal até teria sido possível angariar esse montante. então quanto é que a organização tinha pedido?
em 2016 soube que, do montante atribuído à regata, só cerca de 50% chega aos moliceiros…. mais não digo
entre 2013 e 2015 a entidade organizadora foi a “associação náutica da torreira” que, por questões financeiras, acabou por não pagar a totalidade dos prémios devidos aos moliceiros
em 2016, tendo em conta o que aconteceu com os pagamentos de 2015, a organização passou para o rancho folclórico “camponeses da beira ria”.
os responsáveis pela organização foram mudando mas os prémios para os moliceiros mantiveram-se.
seria interessante estudar a repartição, em valor absoluto e percentagem, ao longo dos anos, das verbas atribuídas à “regata da ria”.
eu? eu não sei nada.

há muito para desvendar, ainda
(ria de aveiro; 2012)
(meditação com moliceiros em fundo)

filho da mãe
durante muito tempo me interroguei do porquê de a expressão “filho da mãe”, ter um sentido depreciativo.
para mim, ser filho da mãe era tão natural como estar vivo, não há outra forma de ser.
mas o povo, o que nos põe na boca as expressões que usamos, sabe das palavras mais que as letras, vai-lhes ao sentir. era isso que me faltava: sentir.
hoje entendo perfeitamente o significado da expressão e a sua conotação depreciativa, entendo porque senti e sentir é a melhor forma de compreender.
espero que nunca sintam o sentido desta frase e que a digam de forma natural, como o fazem com outra qualquer:
FILHO DA MÃE!

(torreira; regata da ria; 2011)