
torreira; 2006
torreira; 2006
até um dia
como se um filho
a rede nos braços
a vida ganha-se
não é oferecida
a mim não
a areia sob os pés
cede prende
pesados passos
o sol ainda não
e o arrais
deu ordens de mar
chego
chego e faço minha
esta praia
onde venho ao mar
buscar o pão
até um dia
(torreira; 2012)
dar voz a quem
saco seco, sacudido, para cima da zorra
a fotografia aos fotógrafos
a poesia aos poetas
nada mais vos quero deixar
que a memória das gentes
as palavras do que sinto
sou ou tento ser
tenho a noção
do quão pouco valho
mas não seja por isso
que nada faça
como esta gente carrega
as redes que ao mar se hão-de fazer
também eu dou o que tenho
sabendo que mesmo pouco
falta fará que seja feito
leio vejo escuto
com nada fico
se tenho dou reparto
migalhas sejam
como estas
pão à mesa de quem
não tem voz
a companha são todos
(torreira; companha do marco; 2015)