a vida mata o sonho

“você só está aqui de férias”

o que era
continuará a ser
não é o cigano
que muda a terra
nem a terra
mudará o cigano
a vida mata o sonho

(torreira; regata s. paio; 2015)
a vida mata o sonho

“você só está aqui de férias”

o que era
continuará a ser
não é o cigano
que muda a terra
nem a terra
mudará o cigano
a vida mata o sonho

(torreira; regata s. paio; 2015)
manda quem pode

tradicionalmente as regatas do s. paio da torreira realizam-se no fim de semana: no sábado a regata de bateiras à vela e a corrida de chinchorros ( a mais emocionante de todas), no domingo a regata de moliceiros.
estranhamente, este ano, a corrida de chinchorros vai ser na quinta-feira dia 7. assim quem só tiver o fim de semana livre, ou vier de fora para assistir às regatas, não vai poder assistir às corridas de chinchorro.
é uma pena, porque é na corrida de chinchorros que se vivem os momentos mais emocionantes das regatas.
será que quem organiza as regatas e é por ela responsável – executivo municipal ou comissão de festas – alguma vez assistiu com olhos de ver às corridas de chinchorros?
alguma vez o horário das marés impediu que a regata de bateiras à vela e a corrida de chinchorros se realizasse no mesmo dia?
alguma vez viram/sentiram a festa que é para os pescadores o participar na corrida de chinchorros e como essa festa deve ser partilhada pelo maior número de pessoas possível?
caros senhores que nestas coisas mandais, parai para pensar e se motivos de muita força vos fizeram mudar a corrida para quinta-feira, pensai na força que perde a força maior das regatas : os pescadores da torreira.
gostava de não escrever o que aqui digo, mas custava-me mais nada dizer.
lá estarei, porque reformado, porque ainda posso. mas lamento os amigos que trabalham, os que vêm de longe e pensavam ver as regatas todas e, alguns já o manifestaram, vão perder a mais emocionante.

fica o vídeo que fiz o ano passado para que sintam, os que decidem, e vejam os que, com esta decisão, não vão poder ver.
(corrida de chinchorros; s. paio, 2016)
frema

palavra da terra
das gentes
do serem dela
cheios alguns
deixo a frema
para que falem dela
e vejam
no homem a frema
de ser
e só assim continuar
o que é a frema
pergunto-vos

(torreira; regata do s. paio; 2016)
o filme continua com
“o tempo do moliço”
conjugação imperfeita

conjugo o tempo
no pretérito perfeito
assassinaram-me
o futuro
incondicionalmente

(torreira; regata do s. paio; 2012)
urgente

ao longe
muito ao longe
a memória
algures um barco
dentro dele um homem
o homem-barco
urgente unir os que
são a memória perto
desse tempo longe
não muito ainda
dar-lhes as mãos
de que carecem
para que um dia
não se escreva
não se possa dizer
ao longe
muito ao longe
havia um barco
dentro dele um homem
um homem-barco
eu

(regata do s. paio; 2016)
porquê

faz um dia do teu tamanho
depois deixa-o crescer
e vai com ele
ao encontro do sol
há aves poisadas na ria
são barcos com homens
velas ao vento braços abraços
vencidos cansaços
dos dias cinzentos baços
o que vai em último
vai também
e isso faz dele
um primeiro diverso
o que resiste
faço o dia com
o meu tamanho
encho-o com uma
única palavra
porquê

(torreira; s. paio; 2014)
sou vela

a bordo do moliceiro do ti abílio
abre a porta e sai
se fechada procura a janela
recusa as paredes
a prisão longe de tudo o que
ser a casa abrigo
é coisa que há muito muitos
ser a casa prisão
é coisa de que há muito muitos
vim de longe
não sei para onde vou
nem quando
mas uma coisa te digo
fechem-me a porta na cara
recusem-me à janela
mas não me tirem a rua
e a varanda sobre os dias
sou vela

a bordo do moliceiro “DOS NETOS”
(torreira; regata do s. paio; 2016)
meditação com moliceiros

se o passado
te matou o futuro
vive o presente
urgentemente

(torreira; s. paio; 2014)
do viver

o meu amigo ti zé formigo
há os que usam da memória
para serem o que já foram
ilusão de
eu uso a lucidez que me resta
para viver os dias
sem ilusões

o prazer da ria é ser nela todo
(torreira; s. paio; 2014)
o ti zé formigo ao leme da sua bateira, no permanente resistir às adversidades da vida
“o moliceiro e o fotógrafo”

o carlos lopes franco e o ti abílio
4 de setembro de 2016, dia maior das festas do s. paio, na torreira: DIA DA REGATA DOS MOLICEIROS.
o maior desejo de qualquer amante da fotografia é participar na regata e fotografá-la de dentro de um barco, mas o regulamento só deixa que a tripulação seja no máximo de 3 camaradas e como são sempre os necessários, este desejo não passa disso.
no s. paio de 2016 reparei que o ti abílio parecia ir navegar sozinho e eu e o carlos lopes franco, que tinha vindo de lisboa para fotografar a regata …… o vento não era muito e perguntei ao ti abílio: quer dois camaradas que não vão fazer nada? a resposta foi imediata: saltem para dentro.
no breve registo que aqui fica, pode ver-se a energia de um homem com 80 anos de idade ao leme de um moliceiro e como o faz navegar sem ajuda de mais ninguém.
para os que gostam da brejeirice de alguns painéis de moliceiros fica também um apontamento de um momento de brejeirice a bordo do barco, um momento “à ti abílio”. é preciso conhecê-lo.
não é fácil repetir registos como este, não será perfeito, mas foi o possível tendo em conta o saber do operador de câmara: eu.
não houve qualquer acrescento de música de fundo porque quis que o registo fosse o mais fiel possível ao vivido. por precaução a câmara estava protegida contra qualquer projecção de água, pelo que a captação de som é algo deficiente. melhorei-a como pude mas sem inventar.
e….. ainda há mais. Cada tripulante tinhea direito a uma medalha de participação, nem eu nem o carlos algumas vez pensámos nisso, mas o ti abílio pensou e sai-se com esta:
– AS MEDALHAS SÃO PARA O CRAVO, PARA O SR. CARLOS E PARA O OUTRO AMIGO DE LISBOA (o josé silveira que tinha conhecido o ti abílio e participara na regata dentro do barco do ti zé rebeço, com o o ti manel antão)
OBRIGADO POR TUDO TI ABÍLIO, FORAM MOMENTOS QUE NUNCA ESQUECEREMOS E QUE, QUEM VIR ESTAS IMAGENS, TAMBÉM NÃO CONSEGUIRÁ ESQUECER.
(as fotos que constam do registo são da autoria de carlos lopes franco)