
praia da leirosa; carregar o saco seco;2019

praia da leirosa; carregar o saco seco;2019

torreira; o recolher do saco; 2016 – irá a zorro na zorra para ser seco

o carregar do saco

vai ao mar o saco, a lavar
santa ignorância

o sacudir do saco
espanta-me a ignorância
dos que sábios se dizem
predicando asneiras
como se verdades porque
por si proclamadas
assusta-me a velocidade
com que o erro se propaga
pela mão desta gente
o que foi já não é
santa a ignorância
que constrói os dias
(torreira; 2011)
fraca gente
escondem o rosto
o dizerem-se
quantos por detrás
nunca se sabe
muitos o silêncio
encobrir pode
na ânsia de insultar
rebaixam o nome
da terra das gentes
deixam como vermes
rasto peçonhento
fraca gente esta
vontade de a sacudir
como a areia das redes

o sacudir do saco
(torreira; 2015)

o fechar do saco
o poema
o poema
fechou-se sobre si
olhou-se pensou-se
disse-se
o poeta envergonhado
cobriu-se de palavras
descansou
esperar é um acto
de sabedoria
o poema se o houver
dir-se-á de novo

o fechar do saco
(costa de lavos; 2017)
vejo sinto sou
talvez não fosse uma maçã
pode até nem ter havido paraíso
nem adão nem eva nem deus
cada um acredita no que quer
mas há a moeda
o fmi o bce o dólar o euro
o bitcoin pasme-se
há o homem e o fascínio
das moedas todas
lhe poderem dar tudo
talvez não exista céu nem anjos
nem inferno nem diabo
mas existe a ganância a cegueira
a lágrima a mágoa a alegria
a revolta a aceitação a ignorância
a fome o desperdício o luxo
existe ainda a propriedade
e os homens impróprios
isto não é crença é facto
e sei que existo eu
a questionar tudo isto
porque vejo sinto sou

carregar o saco na zorra
(torreira; 2012)
ouço-te cacilda
indizível o silêncio
verbalizá-lo é negá-lo
escrevo silêncio
silenciosamente
ouço-te cacilda

mulher do mar da torreira, a cacilda
(torreira; 2016; carregar o saco)
ser
rente ao mar
sempre rente ao mar
a minha gente
sou com eles

(praia da leirosa; 2017)