a beleza do sal (118)


aqui agora

armazéns de lavos; achegar; rer; 2019
não desenho palavras
nem sei de outra música
que a das imagens
roubadas à vida

a máquina fotográfica
não gosto de câmera
os meus dedos
incapazes de desenho

nada de novo
trago aos dias

apenas isto
este estar aqui agora
a inventar

a beleza do sal (115)


que fazer das palavras

morraceira; mexer; 2020
 que fazer das palavras
 se não o assassínio do silêncio
  
 que fazer das palavras
 se não a ferramenta da denúncia
  
 que fazer das palavras
 se não o dizer esta revolta hoje aqui
  
 que fazer das palavras
 se não servirem para derrubar o palco
 erguido pelo silêncio
 
 que fazer das palavras
 se as aprendi para as dar e serem mais
 
 só a conquista dá valor ao conquistado
 desprezadas são as ofertas
 
 que fazer das palavras
 se não usá-las para gritar quando necessário 

a beleza do sal (114)


é dia ainda

armazéns de lavos; carregar o dumper; 2019
 é dia ainda e já se ouve
 o uivar do lobo
  
 a memória acende
 nos lábios as palavras
 guardadas quase
 esquecidas necessárias
 
 é dia ainda e já se sente
 o fedor da besta
  
 junta-se na praça a alcateia
 vindos de longe
 respondem ao chamado
 sedentos de carniça
  
 é dia ainda e já sabemos
 que o uivo o fedor
 mau prenúncio são
  
 ao engano quantos irão 

a beleza dos sal (112)


doem-me os braços

ilha da morraceira; rer; 2020
 tempo de espera este
 sobreviver para viver
 sem saber quando
  
 tempo para lembrar
 depois esquecer
 tempo de não ser
  
 o sal está a trabalhar
 dizem e esperam  
 o tempo de estar feito
 
 no talho que me coube
 vou mexendo os dias
 com vontade de os rer
  
 doem-me os braços
 por falta de abraços 

a beleza do sal (99)


“Recriação da safra à moda antiga” – foto 12

(salina do corredor da cobra; armazéns de lavos; agosto; 2020)

com esta publicação termina a série de fotos em que pretendi mostrar a “Recriação da safra à moda antiga”, organizada em agosto de 2020 no ecomuseu do sal, nos armazéns de lavos.


esta série só foi possível graças a três factores – trabalho, amizade e sorte – e a três pessoas – santos silva, margarida perrolas e gilda saraiva.

esparsamente irão aparecendo outras fotos deste evento mas sem o carácter que a série revestiu.

o meu abraço a todos os que com a sua amizade me permitiram fazer estes “bonecos”.

na foto os marnotos (marronteiros) e os montes de sal