Mês: Fevereiro 2012
Os “porta-vozes” da cultura Avieira, elementos integradores do património imaterial Avieiro
No âmbito do Projecto Nacional da Cultura Avieira e na consequente inventariação do património imaterial avieiro, temos vindo a recolher vários testemunhos orais – histórias de vida – contadas por avieiros, na sua maioria muito idosos, que têm sido o suporte principal da forma de documentar o intangível desta cultura.
Estas histórias de vida integram peças de cancioneiro, lengalengas, rezas e mezinhas e várias narrações, entre lendas e contos populares que estavam em “risco de extinção”.
Esta forma de transmissão do conhecimento assume importância fundamental em todo o processo de salvaguarda do património cultural imaterial avieiro e de candidatura a património nacional imaterial e da Unesco.
Disso vos damos conta nas duas Folhas Informativas em anexo, do ponto de vista da contextualização dos processos de trabalho e de construção de portefólios. A leitura de ambas é complementar e justifica pequenas repetições de excertos de textos. À sua autora, Lurdes Véstia, apresentamos os nossos sinceros agradecimentos.
O Gabinete de Coordenação
(Projecto de candidatura da cultura Avieira a património nacional imaterial e da Unesco)
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Cultura Avieira – Um património, uma identidade
FOLHA Nº06-2012_Candidatura à Lista Representativa da UNESCO
anda

foto de Sent me free_blandisca http://fotogenicos.net/novagaleria/showphoto.php/photo/2740/title/set-me-free-21/cat/517
porque me prendes?
deixa-me ser
eu sou tu dentro de ti
não me ouves?
não me sentes?
não me ignores
sou eu, não me negues
sou tu, deixa-nos voar
somos tão leves
porque me prendes assim?
tens medo?
anda, vamos
tu, eu, nós
tão simples
se abrires as janelas de ti
espreitares lá para dentro
e sairmos as duas
de novo
como quando éramos uma só
anda
vamos saltar à corda
da vida
só o futuro
O trabalho voluntário, base da reabilitação da aldeia avieira do Patacão, em Alpiarça
Os trabalhos de reabilitação desta aldeia decorrem desde há dois anos, envolvendo sempre cidadãos voluntários, num sábado por mês.
No sábado dia 21 de janeiro de 2012, direta ou indirectamente, ali estiveram envolvidas 22 pessoas. Participaram pescadores avieiros, que representaram diferentes aldeias: Azeitada/Benfica do Ribatejo (Almeirim), Porto da Palha (Azambuja), Palhota (Cartaxo) e obviamente Patacão (Alpiarça).
Desde 2010 até Janeiro de 2012 foram ali oferecidos à comunidade 170 (cento e setenta) dias de trabalho-homem. Vale a pena visitar o local para perceber o que ali está a ocorrer. Damos o exemplo em fotos publicadas na presente Folha, do antes e do depois, assim como de zonas do dique recuperadas às silvas e às figueiras bravas.
À autora desta Folha, Lurdes Véstia, apresentamos os nossos sinceros agradecimentos.
O Gabinete de Coordenação
(Projecto de candidatura da cultura Avieira a património nacional imaterial e da Unesco)
Cultura Avieira – Um património, uma identidade
quando o mar trabalha na torreira_luciano amaral
eu sei
o mar
conheço-lhe as manhas
promessas e traições
nevoeiros ondas correntes
eu sei
o vento
norte forte furioso
correndo na areia
erguendo ondas vagas
onde planícies
eu sei
disso depende a minha vida
nesta arte sofrida
sal sol suor mar vento areia
carne curtida
tempo outro mais veloz
eu sei
mas não é por saber
que resisto ao mar
ao seu apelo
à voz
(torreira; século XX)
no acto de ser
nada
é tão límpido e transparente
como tu
se
vês a cidade
tremer nas águas
que imaginas límpidas e puras
engano teu
espelho
velho gasto e assassinado este
que os olhos te ofertam
o teu silêncio cúmplice
a fome do lucro
o desprezo pela terra mãe
tudo isso
o matou aos poucos
transparente e límpido
só tu
se te souberes
e fores
no acto de ser
(aveiro; canal principal)
quando o mar trabalha na torreira_alfredo afonso (cricas)
resta-me o futuro
a esperança de haver
mais mar
aqui moram
as minhas memórias
pegadas
coladas
à areia de ser eu aqui
um grão
no vento voado
do tempo
resta-me o futuro
espuma das ondas
a rebentar nas proas
barcos
peixe pouco
deixando em terra
escamas de mar
aqui moram os meus
sonhos
mesmo os que não tive
(torreita, século XX)








