ver e sentir


 

 

ti manel joão e um saco de berbigão

ti manel joão e um saco de berbigão

 

(muito gosto eu de meditar com a ria em fundo!)

 

se algo sou
és tu
que me lês
que vês o que vi
que tens nome quando não

ser só
pode ser
ser muitos
sendo um deles

quebrar o silêncio
romper fronteiras
levar tudo até onde

falar de nós
isso busco
nada mais

fique para outros a arte
que eu apenas quero
ver e sentir

 

(ria de aveiro; torreira)

 

ao longe, o ti manel joão carrega mais um saco de berbigão. quem dera o pagassem bem

marco valente


marco valente "marquito"

marco valente “marquito”

 

o “marquito” para se diferençar do arrais marco. teria nesta altura 17 anos e o mar já lhe era familiar como se coisa de brincar. era, e é, de ir a todas, desde que o deixem.

a ele devo a designação que me integrou definitivamente na companha, quando no fim das minhas férias me perguntou:

– agora para onde é que vai, ti cravo?

não é fácil adquirir este estatuto, não se tira em nenhuma universidade que não a da vida. o grau de “ti” só os mais velhos, que merecem respeito e são da nossa gente, a ele têm direito.

obrigado marquito por me teres incluído na família

 

(torreira; companha do marco; 2010)

agar ou a memória de um moliceiro


 

 o agar nos secos do bico esperava. queimado por ordem de quem poderes tem

o agar nos secos do bico esperava. queimado foi por ordem de quem poderes tem

 

olho ainda o que já não
guardo-o em mim
coisa minha de ter sido

as chamas comeram-lhe
o que o tempo deixara

contarás as imagens
que prémios ganharam
e era ele a personagem central
loucura pensar que por isso
ficaria mais

um bico no bico
de cimento e azulejo
aponta o céu
virado ao mar
virado ao mar

o fim já tinha começado

 

(ria de aveiro; murtosa; bico)

 

xávega, o saco, as nassas e as caixas


 

 

 

o arrais marco  silva a apanhar peixe com uma nassa

o arrais marco silva a apanhar peixe com uma nassa

 

o peixe é apanhado do saco, no canto inferior esquerdo ainda se vê o porfio, com a ajuda de redenhos, com aro de metal, as nassas,  e despejado para caixas grandes.

depois é espalhado no atrelado ou num oleado, e escolhido para caixas mais pequenas – cerca de 10 kg cada – por tamanhos e espécies.

para ir para a lota o peixe tem de ser lavado, e há duas formas de o fazer: num depósito grande com água do mar, de onde é retirado com caixas de carregar fruta (por causa das aberturas por onde sai a água), ou colocado dentro destas caixas, que são depois mergulhadas em água.

depois de lavado o peixe é finalmente colocado dentro de caixas de plástico com capacidade para cerca de 10 kg, cada.

(torreira; companha do marco; 2010)

história com olhares de bloqueio


e...... fui bloqueado

e…… fui bloqueado

 

para quem não saiba, o “olhares” foi adquirido pelo grupo impresa e a nova administração do site, tem pretendido imprimir uma nova filosofia ao seu funcionamento. nem tudo porém tem corrido pelo melhor, com reclamações pontuais de membros do site, bloqueios de contas de fotógrafos e abandonos de participantes.

como não são as questões pontuais, detectadas no funcionamento do “olhares”, mas sim a filosofia adoptada que me preocupa, enviei o texto que transcrevo, para o apoio do olhares, no dia 29 de março e no dia 2 de abril a fotógrafo amigos do olhares. a 3 abril quanto vou para entrar na minha página, aparece como bloqueada e com a imagem acima.

mas, façamos a história, ponto a ponto:

1. texto enviado ao “apoio” a 29 de março:

breve reflexão sobre o olh ares

premissa fundamental: o olhares é o site de fotografia mais popular de portugal

1.

desde que “entrei” para o olhares, já lá vão uns anos, tenho sido um participante atento do site e apercebido de como funionava/funciona.“um local de encontro de quem gosta de fotografia, não tem grandes pretensões, gosta de ver fotografias e conviver. diria que o olhares foi o facebook dos amantes de fotografia, enquanto aquele não surgiu. aqui se geraram laços de amizade que se ficaram pelo virtual mas que também se concretizaram em encontros reais. claro que os amigos comentam, votam, partilham e, claro também, que quem não aparece, não fala, não ouve, não é conhecido.

é esta a lógica por detrás deste site “popular de fotografia”, é e acabou-se. para mais altos voos outros sites.

2.

depois de ter estado afastado de todos os sites em que participo durante 2 meses, entre finais do ano passado e inícios deste ano, quando regressei ao “olhares”, vi que estava diferente, que parecia haver uma dinâmica que apontava para a fotografia deixando o mais em segundo e terceiro planos.

exemplos:

  • na anterior apresentação a página do autor, quando aberta, mostrava os seus dados pessoais, citações, referências, grupos em que participava…. ele era mais que as suas fotografias, era uma pessoa quando se carregava uma foto, havia espaço visível de imediato para a inserção de textos descritivos da mais diversa ordem: poesia, descrição do momento e localização, retalhos de prosa, ……
  • as fotos que atingissem determinados ratios entravam para “galerias”, desde que tivessem sido devidamente identificadas como candidatas a uma tipologia e se achasse que a tipologia, para além dos ratios, tinha sido bem escolhida – digo eu. polémicas aqui houve e muitos dos autores deixaram pura e simplesmente de identificar a galeria nas suas fotos.

na nova configuração, todas estas componentes para além das fotos, são consultáveis por aberturas de janelas, que as protegem/escondem. este modelo, repito, torna a fotografia um objecto isolado que obriga os autores, quando querem chamar a atenção para algum elemento adicional e escrito, introduzam no título “ver descrição”.

penso que nestes momentos se perdeu muito do “olhares”, entendo que a administração do condomínio não se apercebeu da realidade que tinha encontrado e pretendeu moldar o “olhares” de acordo com os figurinos de outros sites, que nada têm a ver com a história deste.

 

2.

as inovações e as polémicas

 

a- fotos populares

o que é ser popular? é ser visto/lido por muita gente? é haver muita gente a gostar e a divulgar/comentar?….. tony carreira é popular. não se discute, goste-se ou não,

começa aqui a confusão. nem tudo o que é popular tem qualidade, muito pouco do que tem qualidade é popular. e o que é ter qualidade?

se é popular é popular, não há critérios que permitam dizer que não pode ser popular. teve muitas visualizações? muitos gosto? muitos favorita? muitos comentários? muitas partilhas? houve troca de correspondência entre autores sob a forma das categorias acima descritas? tudo isso é estar num site popular, entre amigos e conversar ou dar-se a conhecer. é humano e característico do olhares.

o erro começa logo na designação, não se pode querer vender peixe num talho

depois aparece um algoritmo…. eu que sou formado em ciências exactas e trabalhei com algoritmos, sei muito bem, e muita gente sabe, que qualquer algoritmo tem por detrás uma filosofia que identificou parâmetros e os pondera de acordo com determinados critérios. é assim.

agora digam-me como é que se transforma a qualidade de uma fotografia em quantidades que possam ser introduzidas num algoritmo? como é que ele lê a fotografia? a menos que exista a figura do curador, alguém que vê todas as fotografias e introduz no sistema a ponderação que entende por qualidade. factor claramente humano, que por coincidência poderá ser o nome do curador “al goritmo”.

mais, como é que eu posso não querer que a minha foto chegue a popular? se for boa, o algoritmo selecciona-a, pelo seu factor de qualidade, se eu carregar as fotos e não der cavaco, normalmente não chega, e eu consegui o que queria.

b- ranking de autores

para quê? para um de nós ganhar 2.500 euros? e para se habilitar a tal ter de ter um plano silver ou gold? como é que é construído o ranking?

porque é que o factor qualidade é tão importante nas fotos populares e no ranking, ter o galardão “nossa escolha”, pressuposto de qualidade, não é o primeiro critério? porque é que um fotógrafo com a qualidade do nuno trindade, nº1 do ranking, galardão “ nossa escolha”, foi bloqueado depois de tanto critério selectivo?

a haver uma intervenção humana é exactamente no ranking. ou não existe ou tem de ser muito criterioso na atribuição de posição. como é que autores que não são “nossa escolha”, logo não têm qualidade q.b., podem estar à frente de autores que não têm esse galardão? tá mal! ou será que tá bem?

concluindo

estou e estarei no olhares porque esta é uma das minhas casas, onde vivem amigos reais e virtuais, com quem partilho muito mais do que a fotografia.

não tenho quaisquer pretensões como fotógrafo amador, a não ser dar visibilidade a realidades que de outro modo permaneceriam esquecidas e estabelecer ligação entre comunidades portuguesas de pescadores, em portugal e nos países para onde emigraram.

como condómino do “olhares” gostava de não assistir ao que tenho estado a assistir entre os que aí habitam: o medo.

medo de comentar, de favoritar, partilhar, gostar ….. tudo para ver se não ultrapassam ratios e são bloqueados ou perdem uma foto “popular”.

o que gostaria: de ver um “olhares” com regras claras, transparentes, que não se ficassem pelos adjectivos mas que substantivasse o como das regras com exemplos e, finalmente, que revisse alguns critérios, à luz do que acima escrevi.

espero ver esta meditação na próxima newsletter do “olhares” e reservo-me o direito de a divulgar os condóminos com quem mais me identifico.

os meus cumprimentos

antónio josé cravo/ahcravo

nota: a minha página no facebook tem mais de 3.500 amigos, de vários países do mundo; o meu blog, com mais de 50.000 visualizações nos cinco continentes, dão mais projecção ao que pretendo do que os sites de fotografia onde publico – olhares, fotolog, filckr – mas sei onde comecei e não esqueço. para além disto sou membro de um blog de poesia brasileiro e tenho fotos e poemas espalhados por aí.  

 

2. resposta do apoio a 1 de abril

 

Olá António,

 

Como o seu email não continha dúvidas/questões sobre o funcionamento do Olhares o suporte não pode dar resposta.

O email foi reencaminhado para a direção do Olhares

 

3. no dia 2 de abril, enviei o texto remetido ao apoio, a vários fotógrafos amigos do “olhares” – que se solidarizam com o conteúdo e o divulgaram – um dos quais me avisou de que eu seria o próximo a ser bloqueado.

 

4. no dia 3 de abril, hoje, verifico que a minha conta tinha sido bloqueada, estando paga até 2016, e na minha caixa de correio, a seguinte mensagem do “apoio do olhares”

 

Olá António,

Lamentamos informar que a sua galeria se encontra bloqueada temporariamente devido a ter violada as regras de uso do Olhares.

É de lamentar que esteja a criar polémicas no Olhares e nos obrigue a bloquear a sua conta.

 

5. nem uma satisfação sobre o que vão fazer à minha galeria, com quase 2.000 fotos inseridas, nem ao pagamento efectuado com direito a permanência até 2016.

apenas uma referência ao facto de que estou “a criar polémicas no Olhares”.

no mês em que conquistámos a democracia, uma conta num site português, com pagamento regularizado até 2016, é bloqueada por criar “polémicas”….

uma forma muito própria de celebrar os 40 anos do 25 de abril.

é pena…… mas é verdade

 

 

 

pescar em terra?


 

salvador rodrigues (tito) e a mulher partem para a faina

salvador rodrigues (tito) e a mulher partem para a faina

(meditação com a ria em fundo)
não te ofereço os dias
em que habitas
deram-te aos dias e neles
habitarás
e serás ou não

a casa será à tua medida
fa-la-ás se por ela fores

o pescador faz-se à ria
sem saber se de peixe virá servido
faz os dias onde a sorte
por vezes mora

jamais pescará em terra

 

(ria de aveiro; torreira)

xávega, a cavala


saco cheio de cavala

saco cheio de cavala

já o disse noutra altura que onde anda cavala, não há carapau, porque foge de ser comido. um lanço de cavala não é um lanço rentável, porque o mercado de consumo directo e da restauração, não a valorizam e o grande consumidor, o mercado conserveiro, depressa fica saturado e paga a preços baixos.

quando o salmão está na moda como peixe saudável, os inconvenientes do seu consumo já foram divulgados pelo investigador do ipma,Carlos Cardoso, na conferência do dia mundial da alimentação, em 2012, em na fundação calouste gulbenkian, alertou para o facto de este peixe, embora rico em ómega 3, também o é em ómega 6, ácido que tem um efeito pró-inflamatório em muitas doenças.

na mesma conferência o investigador catalão, José Domingo aconselha o consumo de peixes que “até têm um preço económico” como a sardinha, a cavala, a anchova, o biqueirão, ou de moluscos como a lula e o polvo….”. ver a notícia em:

 

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/porque-e-que-e-melhor-comer-sardinha-do-que-salmao-1567566

 

uma das formas de apoiar os pescadores das xávegas da nossa costa passa pela promoção de pratos saudáveis que tenham por base a cavala.

é um desafio aos empresários de restauração das praias onde a xávega ainda se pratica. na figueira da foz, onde a cavala é proveniente da pesca das traineiras, esta promoção já é feita a nível local.

enviem-me receitas de pratos com cavala, acompanhadas de fotos, e eu divulgá-las-ei

 

(torreira; companha do marco; 2010)

 

zé pedro miranda


 

o paulo agarrrado à escota da vela do moliceiro

o zé pedro a agarrar a escota da vela do moliceiro

 

 

filho do alfredo miranda, a quem devo o manual do curso para arrais da ria e que muito jeito me tem feito, e neto do mestre zé rito – antigo moliceiro e actualmente mestre construtor de bateiras e moliceiros no estaleiro da torreira – o zé pedro é um verdadeiro homem da ria.

atento a toda as obras do avô, tem sempre um reparo a fazer, mas é a velejar e ao leme dos moliceiros que se sente bem.

aos 14 anos de idade, ao leme do moliceiro do ti manel valas, primo do avô, ficou em segundo lugar na regata do s. paio da torreira, de 2013.

é em putos como ele, com a tradição no sangue, a arte nas veias e a cultura que vão adquirindo na escola, que a ria continuará a viver.

 

(torreira; 2013)

xávega, o porfio


 

o agostinho trabalhito a cortar o porfio

o agostinho trabalhito a cortar o porfio

 

o saco do aparelho da xávega, é parcialmente fechado/cosido com uma linha mais grossa, de nylon, o porfio.

no fim de cada lanço o porfio é cortado para melhor se tirar o peixe e, depois de esticado na areia e seco o aparelho, porfia-se/fecha-se de novo o saco.

neste registo o agostinho tabalhito corta à navalha ( das que cortam como manda a lei ) o porfio, que ele depois voltará a coser.
(torreira; companha do marco; 2010)