vem empurrar o sol


ainda há luz

 

anda

vem empurrar o sol

 

como são frios estes dias

gela-se por dentro

como se devagar fossemos

morrendo

e vamos, sabemo-lo,

mas podia ser de outro modo

 

como são pesados estes tempos

que tempos são estes

que não os queremos para ninguém?

 

as mãos

sonhos por dentro da concha

a aquecer um sol longe

 

rente à areia um vento ácido

tudo leva

sequer as gaivotas ficaram

casulos de penas com pernas

 

há um sonho de criança

poisado nestes dias

um luto na voz

 

porém

se empurrarmos o sol

as nuvens quebram-se ao peso da luz