fui de novo


de novo

escrevo o tempo
onde me inscrevo
gravadas na pedra dos dias
as palavras

inscrevo-me
em lado nenhum
não sigo qualquer escola
que não a do coração
a saltar-me para as palavras

estou
definitivamente estou
por mais incómodo
estou

não me inscrevam
em movimentos
inscrevam-me, isso sim,
no movimento
pois estou vivo
em todos os sentidos

agora mesmo
escrevi e fui de novo

recuso


  

a minha voz é vento

o meu olhar é luz

semeio sem saber se colho

 

recuso a caverna

onde vivos enterrados

recuso a cama

de cartão com gente dentro

recuso a mão estendida

na sede uma moeda

 

recuso o silêncio

espantado de não haver bocas

para tantas palavras retidas

recuso olhos sôfregos

nas montras onde só pão

 

recuso a desilusão amarga

consentida do ter de ser

recuso os sorrisos bolorentos

da caridadezinha

a distribuir o que a mais

 

recuso

porque quero diverso

este estar aqui

tão efémero e tão sofrido

para tantos

xávega, ainda o arribar


zé caravela
 
o barco aproxima-se de terra, está já à vista, em terra o pessoal prepara-se para as manobras necessárias ao “bom arribar”.
 
o zé, segura o cabo que tem na ponta o gancho que vai engatar no arganel da proa que, com outro camarada, com outro gancho, fará com que o barco se mantenha perpendicular à praia e seja rapidamente puxado pelo tractor.
 
delicada manobra esta.
 
(torreira; companha do murta; 2007)