há corpos que não
descem à terra
mas que a fazem elevar-se
e abrir-se para os acolher
orgulhosa mãe de os ter consigo
uma voz sobe da terra
percorre ilhas e mar
busca o mundo que a ouve
cesária será sempre
há corpos que não
descem à terra
mas que a fazem elevar-se
e abrir-se para os acolher
orgulhosa mãe de os ter consigo
uma voz sobe da terra
percorre ilhas e mar
busca o mundo que a ouve
cesária será sempre
luísa da calada
(irmã do arrais joão da calada e viúva de tiago branco)
sei das letras os desenhos
pelas crianças feitos
na areia da praia
no alfabeto da minha vida
cada dia é uma letra
umas mais cheias
outras mais finas
escritas pelo mar
dia a dia marcadas
no corpo que no meu rosto
se espelha
dos números
as contas
somar peixe
dividir sardinha pão
subtrair dias de norte
multiplicar
nunca houve o quê
neste viver feito do mar
azar e sorte
(torreira, século XX)