meditação breve


o caminho é a aventura

não sou

tudo o que quero

mas

quero ser

tudo o que sou

recuso-me a não ser

o que em mim é do que fui

 

serei sempre o ter sido

isso é ser

 

os dias caem sobre os dias

a bateira voga silenciosa

como se

algo mais que ela própria

madeira trabalhada por mãos sábias

que outras mãos

sábias também de outra arte

continuam

 

olho em frente

procuro um caminho por fazer

persigo a aventura

toca-me


 

(toca-me que tenho medo_sofia carvalho_blandisca)

 

sinto-me tão indefesa

tão só em mim

quero apenas

que me toques

um sentir-te

mesmo que não sintas

 

tenho medo do escuro

de ser tão pequena

e as noites tão grandes

 

lembras-te de quando me falavas

do sótão?

lembras-te do papão

que lá morava?

 

eu lembro-me

por isso tenho medo

(essas histórias não deviam existir

não deviam ser contadas)

 

toca-me agora

sim

toca-me agora que tenho medo