o bordão da regeira


 

 

o bordão e a regeira

o bordão e a regeira

 

ao largo já o barco, vencido que foi o mar, é tempo de arrumar os aprestos.

a corda que se vê presa à extremidade pontiaguda do bordão, de ter estado bem enterrada na areia, é a regeira.

foi recolhida pelo membro da companha que tinha como tarefa mantê-la tensa e desse modo perpendicular à vaga a bica do barco.

a regeira, relembro, é uma corda que é presa ao golfião de estibordo e impede que a corrente dominante de norte faça o barco atravessar-se.
(torreira; companha do marco; 2010)

canso-me


o alar da solheira no chegado, murtosa

agarrar o tempo
pelas pontas dos momentos
onde estive
onde estou
onde estás
onde estaremos

agarrar o tempo
como se não a areia por entre
os dedos
escorrendo imparável
sem destino que os pés
do tempo ele mesmo

agarrar o tempo
o exacto instante em que
tudo se condensou
para ser (e)ternamente belo
enquanto memória
presente

canso-me

o alar da solheira no chegado, murtosa

….enquanto escrevi, algures num recanto do tempo, os pescadores continuam alar as redes e a esperar que emalhado o pão da ria chegue para a janta….

(ria de aveiro; murtosa; chegado)

onde habita o olhar


quando o real se torna
virtual
e o virtual se torna real
a memória reside algures
já não onde
sequer como
era

apetece-me refazer tudo
e a mim também
para que o ter sido ganhe
em beleza o que perdeu
por já não ser

sou o criador
que abre as mãos
do que não pode guardar
e te encontro algures à minha espera

onde habita o olhar

(regata de moliceiros; bico; 2007)