da beleza

há recachia na ria
ama o belo
não por ser teu
mas por ser
o moliceiro é

há recachia na ria
(torreira; regata da ria; 2016)
da beleza

há recachia na ria
ama o belo
não por ser teu
mas por ser
o moliceiro é

há recachia na ria
(torreira; regata da ria; 2016)
As mesas dos cafés, a globalização e a crise das utopias

No tempo em que vivemos, a que já alguém chamou “era da técnica”, a mesa do café saiu pela porta, pela janela, por onde pôde e estendeu-se pelo mundo. Globalizou-se. As conversas alargaram-se aos cinco continentes, passeiam pelas ruas de todos os países, a distância morreu nos braços do WWW e tudo pode ser aqui e agora.
As redes sociais não são mais que a mesa do café globalizada. Quem o não entender hoje, terá dificuldade em estar no amanhã.
Veja-se a recente eleição de Bolsonaro como Presidente do Brasil e de Trump nos Estados Unidos, e as polémicas que geraram. No entanto, Obama foi dos primeiros a utilizar as redes sociais numa campanha eleitoral, que venceu, embora sem quaisquer polémicas.
Assim sendo o que é que as separa? Se o meio é o mesmo, a polémica só pode ser gerada pelos conteúdos, não na exposição das opções políticas, essas claramente diversas, mas por um qualquer outro motivo. Em relação à eleição de Bolsonaro soubemos pelas televisões, e pelas redes sociais também, que tinha difundido a notícias falsas sobre os seus adversários – note-se que na moderna linguagem da comunicação, mentira e falsidade são “inverdades”.
Será que isso só acontece nas redes sociais? E nos meios de comunicação tradicionais? Argumentarão os defensores destes que sendo os seus profissionais jornalistas, obedecem a regras deontológicas e de credibilidade que as redes sociais não contemplam. Seria verdade se não estivéssemos atentos às “notícias” que nos são servidas a toda a hora. “Notícias” que constroem redes sociais nas velhas mesas de café, gerando conversas que se debruçam sobre o “estado a que isto chegou !”.
As redes sociais são o inimigo número um da verdade na informação? Claro que não.Tal como não se pode dizer que os automóveis são o maior inimigo do homem, apesar dos últimos dados sobre os mortos causados por acidentes com automóveis.
A internet veio pôr à disposição do homem novas formas de comunicação, não criou um homem novo. Vivemos num tempo em que a crise das utopias se faz sentir ao nível dos valores e da ética: vale tudo desde que eu ganhe! O “nós” é um eu sem vergonha.
“Caro leitor” , sejamos claros e directos, vivemos numa sociedade onde o dinheiro comanda a vida – “… hoje tudo é mercado” escreveu Rosa Montero. António Gedeão neste momento, onde quer que esteja, só tem pesadelos.
Sei que escrevo esta crónica num jornal local digital, e o que escrevo aqui também o faço nas redes sociais, não é criado no silêncio dos corredores, numa fábrica das inverdades ou à mesa onde come a alta finança e tudo se planeia. Escrevo-o aqui e …. se já piquei de algum modo a sua curiosidade ou lhe abri uma janela para espreitar de outra forma a realidade que lhe servem em directo, já foi bom.
Até breve, aqui ou numa qualquer rede social perto de si.
(nota esta crónica surge na continuação da anterior e encerra-a)
link para a notícia
urgente

o mestre zé rito ao leme do moliceiro “Zé Rito”
poesia precisa-se
poetas abundam

o mestre zé rito ao leme do moliceiro “Zé Rito”
(torreira; regata do s. paio; 2018)
da ilusão

um mais um
quantos são?
o total depende
sempre de ti

(torreira; s. paio; 2011)
hoje

o “Doroteia Verónica” ainda era um moliceiro inteiro
entra em mim o outono
por debaixo da porta
deste estar aqui ainda
o vento levou as memórias
onde habito
fui-me e fiquei
para ser
o que esqueci

o “Doroteia Verónica” ainda era um moliceiro inteiro
(torreira; regata da ria; 2011)
tão só

durante anos
registou as vozes
do vento
quando morreu
abriram o livro
as folhas voaram
um sopro de vento
tão só

(torreira; regata s. paio; 2018)
(da memória)
bom dia dr. joaquim

joaquim namorado retratado por jaime do couto ferreira
cheguei a coimbra em setembro de 1973 e, não me lembro já porquê, fiz do tropical o meu café. ali se juntava a tertúlia de que joaquim namorado e orlando de carvalho – este por vezes de forma ensurdecedora – eram as figuras centrais.
jovem estudante, amante da leitura, ali passava as manhãs ou tardes livres a ler e, à tarde, a ouvi-los.
é no entanto depois do 25 de abril que começam as minhas conversas, fora da tertúlia, com joaquim namorado. conversas matinais entre um esquerdelho e um comunista ortodoxo.
até ao final da vida do poeta mantive com ele conversas animadas em que muito aprendi, lembro-me de lhe mostrar uns originais para colher a sua opinião, de caneta na mão lá foi riscando, cortando ….. (perdi essas folhas, como tenho perdido muita coisa na vida)
fomos amigos e isso é o mais importante. com a morte de joaquim namorado, para mim, morreu a praça da república e já pouco fui ao tropical.
setembro de 2018
no âmbito da exposição de jaime do couto ferreira e na sequência da edição do seu livro “O Herói no “Neo-realismo mágico” a editora lápis de memórias promoveu na casa da escrita, em coimbra, duas sessões sobre o poeta joaquim namorado.
neste registo reproduz-se a totalidade da sessão de 22 de setembro de 2018, em que antónio pedro pita fez uma “releitura” da obra do poeta e uma “visita guiada” à sua vida.
rui damasceno e josé antónio franco disseram poesia

talvez
como eu gosto desta palavra
talvez
porque não tenho certezas
ai de quem as tem
talvez
outro corpo noutro lugar
talvez
talvez
tudo pudesse ser diverso
talvez
talvez a música
talvez
(coimbra; 2014)
mulher

escrevo ria
com m de mulher
não menina
escrevo esta gente
nestes dias
de velas e vento
de sermos
escrevo ria
com m de mulher
e é laguna
escrevo mulher
numa bateira
e a ria sorri de

(torreira; s. paio; 2018)
o beijo

numa folha de papel
desenhei dois lábios
como a arte é nula
ficaram mal feitos
mas
coisa estranha
beijaram-me

(torreira; regata do s. paio; 2018)