crónicas da xávega (174)


as palavras e as imagens

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o “M. FÁTIMA” novo e a primeira grande pancada de mar

é normal procurar imagens para as minhas palavras, mas a foto de hoje deixou-me sem elas.

há dias assim, de olhar só

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há anos que não fazia uma foto destas. grande barco!

(torreira; 14 de junho de 2016)

crónicas da xávega (173)


estive aqui de férias

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no verão de 2013, o cipriano carrega o saco na zorra

olhar sem sentir
olhar apenas sem pensar
estou aqui de férias

ilusão tudo o mais
para além de mim

quem cá está
cá ficará
eu partirei
sem saber se

o meu amanhã
é em toda a parte
o meu ontem
passou por aqui
o que fui é o ser
assim onde estiver

há mais mar que homens
há mais sonho que rebanhos

não preciso de pastor
basta-me o barco
que trago dentro de mim

vou comigo
para que sejam
e continuem

estive aqui de férias

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cipriano brandão, em 2013 (o vício do mar)

(torreira; companha do marco; 2013)

crónicas da xávega (172)


como ficar calado?

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a vida de pescador é dura, muito dura

no dia em que o furão vaidoso engorda a sua luxuosa reforma, com a entrada para presidente não executivo de um grande grupo bancário, nesse mesmo dia, hoje, um pescador da torreira de baixa por doença grave, diz-me na praia:

– estou de baixa cravo e recebo e … euros por mês (tenho vergonha de escrever o valor)

é esta sociedade a que eu me recuso a pertencer e a não denunciar.

só respeito os homens que se ajoelham perante deus, porque acreditam e eu não.

os mais, queria-os de pé, como se tivessem pernas dentro da cabeça.

isso sonho

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o horácio, a manga da rede e o alador

(torreira; 2012)

crónicas da xávega (170)


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2009, a muleta tradicional

sou
o que se foi fazendo
os princípios sempre
as pedras e os afagos também
não o outro o que gostariam
que apesar tudo
continuasse
a ser

o que me dói ser assim
o ter chegado ao que sou
eu por dentro e por fora de mim
escrevo-o com lágrimas
e raiva raiva raiva raiva

um dia vou acordar nunca
para ser eu

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com o tempo muito se altera, as coisas e as pessoas. já lá vão 7 anos

(torreira; companha do marco; 2009)

 

crónicas da xávega (169)


hoje sou puto

(para o meu amigo ricardo)

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o ricardo, o sílvio e ao fundo a aurora e a cacilda

continuo a chamar-te puto
e já és maior que eu
mas eu também envelheci
não é puto?

o barco é novo mas nós
conhecemo-nos
no primeiro M. Fátima
e cá estamos

tu feito um homem de mar
eu com a minha máquina
a salgar imagens na memória

olha ricardo
quando digo “puto”
também eu
continuo a pensar
que não envelheci

já lá vão onze anos
puto
onze anos e foi ontem

mas hoje
hoje sou como tu

hoje sou puto

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o ricardo e o calão

(torreira; companha do marco; 2016)

cróicas da xávega (168)


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haja mar! temos barco

11 de junho de 2016
o novo M. Fátima
foi pela primeira vez ao mar

longa vida ao barco
sejam fartas as safras
unida a companha

força arrais marco silva
mestre construtor de barcos
e de dias melhores

parabéns
a todos familiares
que neste dia

disseram: presente!

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um barco que parece voar

(torreira; companha do marco; 2016)

crónicas da xávega (167)


o mar tarda

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a albina e a aurora aos bordões da mão de barca

o mar tarda este ano
tarda o peixe no saco
tarda o pão na boca

que inverno
depois deste verão
que nunca?

olho-as e penso
mulheres do mar da torreira
que mar é este?

por dentro de mim
corre uma tristeza por tudo
e não há nortada
que limpe o nevoeiro
que carrego

vivo de algumas memórias
outras me matam devagar

o mar tarda e eu

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(torreira; companha do marco; 2013)

crónicas da xávega (165)


hoje estou vivo

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eh! gente do mar. voltei!

estou de regresso
ao mar à ria
a uma certa forma
líquida
de ter casa onde
navegam
amigos muitos

sorrio
porque ainda
ainda estou cá

os dias bebo-os todos
como se os últimos
porque se não repetem

estou vivo, caramba

hoje estou vivo

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estou de volta, ti horácio!

(torreira; companha do marco; 2014)