postais da ria (565)


NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias

NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias

NÃO
posso calar tudo o que dentro
de mim ferve e se impõe
contra o silêncio a prepotência

NÃO
o ter armas poder dinheiro NÃO
tem força de lei mas sim
marginais loucos engravatados

NÃO
aceito a conversão de dólares
em crianças assassinadas
o lucro cego pago com sangue

NÃO
chamem-me perigoso terrorista
escrevam o meu nome
a vermelho mas ESCREVAM que

NÃO me verguei nunca

NÃO
ao GENOCÍDIO em GAZA
ao governo de netanyahu
NÃO à GUERRA SIM à PAZ

PALESTINA LIVRE

(regata de bateiras à vela; s. paio; torreira; 2017)

os moliceiros têm vela (561)


desejo-te tudo o que 
não me desejaste
mas gostarias de ter
desejado se

e são tantos os ses
para o não teres feito
tantos os ses que aceito

e desejo-te
sinceramente desejo

tudo o que
não me desejaste
mas gostarias de ter
desejado

(moliceiros; regata do emigrante; cais do bico; murtosa; 2010)

os moliceiros têm vela (465)


entre 2010 e 2021 foram muitos os moliceiros que desapareceram. os que de novo foram feitos não os superam.

não vou citar nomes de homens e barcos, mas seja o ti abílio, amigo do peito, mestre das artes do mar e da navegação – que já não tem moliceiro e por isso não estará presente na regata de hoje -, o símbolo do amor a estas aves tão belas a que deram, por arte e ofício, o nome de moliceiros

torreira; regata do são; 2010

postais da ria (394)

postais da ria (394)


eternidade breve

o assassínio do futuro
condena-me a conjugar
os verbos no passado
se os nomeio

folhas secas juncam o chão dos dias
inscrevem nomes na memória
povoam o silêncio

estar vivo é saber
da morte dos outros
ser a sua eternidade breve

outra não há

torreira; regata bateiras à vela; são paio; 2013

postais da ria (389)

postais da ria (389)


caminho andado

torreira; regata de bateiras à vela; s. paio; 2013
caminho descalço
pelos dias de estar aqui
olhos abertos como mãos
em tempo de fruta madura

caminho descalço
dorido de tantos cacos
pedras vidros pregos

recuso o conforto da cegueira
auto imposta felicidade
falsa de luas inventadas

doem-me os olhos de ser 
torreira; regata de bateiras à vela; s. paio; 2013

postais da ria (387)


eu ainda

o ti zé formigo ainda está aqui comigo – (regata do emigrante; cais do bico; 2018)
tenho o passado 
num disco externo

chego devagar
lento é o tempo de

revejo amigos
idos para sempre

fui por inteiro
não me resguardei

se traidores houve
só um é culpado
eu por ter acreditado