o cambar


SONY DSC

 
durante as regatas, de moliceiros e não só, a corrida pode-se perder ou ganhar, segundo a forma como se aborda e contorna as bóias que limitam o percurso.

na ria de aveiro diz-se que os barcos “cambam” quando a contornam, é um dos momentos mais interessantes de fotografar e onde a confusão é maior.

(torreira; regata do s. paio, 2010)

se soubesses


o peso feito

 

momentos há em
que o peso
dos dias se
sobrepõe
ao brilho da luz

momentos há em
que o peso da dor
se sobrepõe
à leveza de
estar vivo

momentos há em
que se soubesses
se soubesses mesmo
terias aprendido a voar

partirias então
leve
muito leve
sem peso
de mais nada
que não o de seres
assim

sem que
momentos houvesse em
que o peso
é demais
e carece de fim

(torreira; marina dos pescadores)

Companha do Museu da Torreira_ era hoje a escritura


varrendo o tempo

COMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA

Uma estória para a história

A ideia nasceu em Junho de 2011 em conversa com os pescadores da Torreira, depois de termos chegado à conclusão que muito do que existe na Sala da Ria, do Museu Marítimo de Ílhavo, ter partido da Torreira, onde não existia qualquer espaço onde recolher as memórias da pesca e dos barcos da terra.

De imediato tratei de pedir o registo da designação, o que veio a ser realidade com a emissão do Certificado de Admissibilidade, em anexo.

Durante o mês de Agosto sensibilizei os pescadores para a necessidade de se fazer uma escritura da legalização da Companha do Museu da Torreira – que a dotaria de estatuto legal e da força necessária para negociar com as mais diversas entidades – e que tal tinha como data limite o dia 14 de Outubro, hoje.

Tive o apoio expresso de alguns pescadores e do Reitor da Torreira, Padre Abílio, a quem muito agradeço a forma como divulgou a reunião onde se iria discutir o interesse da existência de um espaço museológico na Torreira e identificar quem seriam os sócios fundadores.

Na reunião pública que teve lugar, em Agosto, na Assembleia da Torreira, cedida pelo Presidente da Junta de Freguesia, a participação de pescadores, apesar dos anúncios em cartazes e na igreja, foi quase nula. Manifestou-se, porém, entre os presentes, o interesse que o “Museu” tinha para a Torreira e a disponibilidade para doarem espólios valiosos.

Na reunião, de cerca de 2 horas, que mantive com o Presidente da Câmara da Murtosa, foi por este desde logo manifestado o seu não apoio à ideia, uma vez que desde 2001 anda a lutar por um Ecomuseu da Ria, a localizar a sul da Bestida, e não fazia sentido um espaço na Torreira, porque já lá tinha sido feito um pequeno investimento – estaleiro para o mestre Zé Rito e uma pequena sala de exposições anexa.

Nunca fui dos que dizem mal por dizer, se falo é porque quero fazer melhor, sempre foi este o meu modo de estar na vida e não é agora que vou mudar.

Anteontem – dia 12 – fui informado de que só existiam documentos de 1 pescador para a realização da escritura, embora existissem pessoas singulares disponíveis para serem fundadores e assumir a sua realização.

Face a isto tomei a decisão, e assumo-a em pleno, da não realização da escritura e de que o projectoCOMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA – ASSOCIAÇÃO PARA A MEMÓRIA VIVA DA TORREIRA”, não teria sido mais do isso: a expressão de através de um desejo de uma necessidade sentida por muitos.

Era para ser hoje, não será.

Não quero, no entanto, deixar de agradecer ao Sr. Padre Abílio, Reitor da Torreira, e à D. Carolina, técnica do Cartório Notarial de Estarreja, o empenhamento desinteressado com que se entregaram ao projecto.

A todos os que apostaram neste processo o meu abraço de agradecimento e a certeza de que um dia vai mesmo haver um Museu na Torreira.

Por mim, continuarei a fazer o que sei: coisas.

 António Cravo

 ————————————————————-

ANEXO

“Código de Certificado de Admissibilidade: 0145-7182-0032

Número do Certificado de Admissibilidade: 2011030439

Com o NIPC: 509949533

 Firma ou denominação aprovada para os elementos abaixo indicados:

COMPANHA DO MUSEU DA TORREIRA – ASSOCIAÇÃO PARA A MEMÓRIA VIVA DA TORREIRA

Certificado requerido por:

Nome: António José Cravo

Identificação: Bilhete de Identidade – 02043155

Para efeitos de constituição de: Associação de direito privado

Sede: Concelho de Murtosa, distrito de Aveiro

Objecto social:

      Promover, recolher e divulgar as artes da pesca e da agricultura tradicionais da vila da Torreira, seus usos e costumes, nomeadamente através da criação e manutenção de um museu onde se possam expor os objectos, as memórias recolhidas e realizar eventos, com a finalidade de revitalizar tradições e memórias, estimular, desenvolver e partilhar o gosto e o valor destas actividades da vida humana.

CAE Principal: 94991

CAEs Secundários:

Condições de validade: “.

Aprovado por: Eduarda Avelar Nobre, Conservador auxiliar

Emitido em: 19-07-2011 10:40:48 UTC

Válido até: 19-10-2011 (inclusive)

Utilização do certificado: Por utilizar”

o tempo parou


sem moldura

o tempo parou

no umbral da porta
só a luz passou
coada, finíssima
tudo cobre
com a patine do tempo
em que o tempo
parou

tempos houve
em que fogo
gente, sopa
mesa, vinho
pão, calor

tempos
parcos de haver
fartos de partir

foram-se
levando com eles
a memória
e o tornar

parou o tempo
no exacto momento
em que a porta
passaram
prometendo
a si mesmos
que um dia
quem sabe
outra casa
farta e nova
ali fariam

não voltaram
para onde foram
aí ficaram
e o tempo

o tempo parou

(macieira; serra da gralheira; s.pedro do sul)

xávega – o recolher do peixe


KONICA MINOLTA DIGITAL CAMERA

o retirar o peixe do saco com recurso a “xalavares” é o primeiro passo dos últimos de um lanço.

a ele segue-se a escolha, a lavagem e o enchimento das caixas, que serão negociadas com o intermediário e/ou levadas à lota.

enganam-se aquele que pensam que o pescador ganha bem porque o peixe é caro. entre a venda ao intermediário e a venda ao público o preço pode ser multiplicado por mais de 10 vezes.

enquanto os pescadores não se organizarem e forem eles próprios a fazer a venda directa na lota, com exclusão de intermediários, ganham muito os que fazem pouco e ganham pouco os que trabalham muito.

mas isto não passa de um sonho, no que se refere à pesca artesanal. nunca houve organização e não é agora, quando são tão poucos, que vai haver. a subsistência da xávega, não é um milagre, mas é um mistério alimentado com muito suor e reformados.

(torreira; companha do murta; 2006)