(torreira; 2006)
torreira
crónicas da xávega (615)
postais da ria (565)
NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias
NÃO
assim em maiúsculos inusuais
como um grito de revolta
pedrada nas janelas dos dias
NÃO
posso calar tudo o que dentro
de mim ferve e se impõe
contra o silêncio a prepotência
NÃO
o ter armas poder dinheiro NÃO
tem força de lei mas sim
marginais loucos engravatados
NÃO
aceito a conversão de dólares
em crianças assassinadas
o lucro cego pago com sangue
NÃO
chamem-me perigoso terrorista
escrevam o meu nome
a vermelho mas ESCREVAM que
NÃO me verguei nunca
NÃO
ao GENOCÍDIO em GAZA
ao governo de netanyahu
NÃO à GUERRA SIM à PAZ
PALESTINA LIVRE
(regata de bateiras à vela; s. paio; torreira; 2017)
a fala dos retratos (173)
crónicas da xávega (614)
escolho escolher
escolho o que como
o que bebo sei o que posso
onde vou e quando
eu na minha inteireza sou
rocha antiga firme
em convicções e causas
não conheço quem
possa escolher um povo
que não o escolha
é pescadinha de rabo
na boca e isso
só com arroz de tomate
(xávega; zorra carregada com barco em fundo; torreira; 2013)
crónicas da xávega (613)
cavar fundo
revolver a terra
cavar mais fundo
abrir pedras
na raiz da palavra
o coração do poeta
saboreio o fruto
digo o poema
(xávega; rede seca carregada a preceito; o voo do saco; torreira; 2013)
nota: depois de ter secado, estendida no areal, a rede é colocada sobre a zorra – estrado de tábuas pregadas sobre toros, com uma corda para poder ser traccionada – com a seguinte sequência : mão de barca; saco; reçoeiro (terminologia da torreira)
os moliceiros têm vela (576)
a fala dos retratos (171)
” … quando puder venha nos visitar, alguns de nós sentimos a sua falta … já fazia parte da nossa história … da torreira, era e é um de nós.”
(joão manuel brandão)
(torreira; 2012)
(nota: foto publicada com autorização do retratado. o registo foi feito a bordo da bateira, no final de uma sessão de mariscar com o uso de cabrita alta)
postais da ria (564)
crónicas da xávega (612)
a palavra escrita digo
devagar soletro
a emoção com os dedos
cego caminho pelas letras
repito-me repetes-me
eu sou as minhas palavras
pensava que o sabias
que me ouvias e era gravura
antiga em rocha dura
o que te dizia
sabes não há verdades
eternas nem mentiras que muito
durem o sol hoje é lá fora
não o será sempre
que outras estações virão
(xávega; aparelhar; torreira; 2013)









