Torreira, Procissão do Corpo de Deus, 2017


Breve súmula do evento

A procissão dos barcos pela Ria no Dia de Corpo de Deus, começou a ser realizada em 2010 e partiu da iniciativa do Padre Abílio Araújo – pároco da Torreira. A finalidade é envolver a comunidade piscatória com a comunidade das Quintas, em cuja Capela da Sra da Paz é celebrada a Eucaristia, durante a qual comungam todas as crianças que fizeram a primeira comunhão nesse ano.

Ao princípio da manhã saem da Torreira dois moliceiros, um com as crianças que vão comungar e os seus acompanhantes e outro com o Padre Abílio, o diácono e os acólitos. Os pescadores vão nas bateiras e nas chatas.

No fim da eucaristia realiza-se a procissão entre as Quintas e a Torreira.

Normalmente, no regresso, à frente vai um grupo de acólitos numa bateira, com a cruz e as lanternas, num moliceiro o Padre Abílio com o diácono e o restante grupo de acólitos, as crianças vêm todas juntas noutro moliceiro.

Procurei nesta pequena reportagem, realizada em 2017, filmar a procissão na ria e mostrar como ela pode ser uma festa e uma celebração de fé da comunidade piscatória da Torreira.

(o meu agradecimento a Lucinda Barbosa, Presidente da Junta de Freguesia da Torreira, pelas informações que possibilitaram a construção deste descritivo)

 

“Portugal primeiro” (Notícias de Aveiro_24/02/2018)


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“Portugal primeiro” pode servir para um campeonato, um festival, uma guerra, mas é com certeza o país onde gostei de nascer e espero morrer. 

ahcravo gorim *

Vejo um jovem másculo, dinâmico, barbeado, praticante de culturismo, num concurso mundial de beleza masculina.

Das bancadas uma jovem, digna de capa de revista, grita: “Portugal primeiro”.

O jovem responde pelo nome, olha na direcção de onde veio a voz, enche o peito de ar, exibe os bícepes e os peitorais esplendorosos.

O júri, perante as amostras a concurso, mostrava-se indeciso na atribuição da classificação final. Porém aquele grito despertou-o da dúvida e a decisão foi tomada a quente.

Num placard erguido por sobre as cabeças ilustres dos membros do júri pôde ler-se de imediato: “Portugal primeiro”.

Depois acordo e estou a assistir pela televisão ao congresso de um partido, onde o candidato a líder afirma “Portugal primeiro”. Esfrego os olhos, não sei se ainda sonho. Utilizo o comando para voltar a rever e ouvir. Confirmado.

Ora Portugal é um País, ponto final, parágrafo.

Para uns é identificado pela Língua, Cultura, População, Geografia, Hino, Bandeira, selecções várias e por aí fora. Mas quantas Culturas há dentro da Cultura? E que dizer da População? Até na Geografia há tanta diversidade!

Para outros é um conjunto de indicadores que a deusa da estatística fornece e que podem ser manipulados consoante os fins pretendidos, há deusas assim. Números, números e mais números, frios, calculados e calculistas. Os escravos dos números só se libertarão com letras.

Siga o congresso!

“Portugal primeiro” pode servir para um campeonato, um festival, uma guerra, mas é com certeza o país onde gostei de nascer e espero morrer.

“Portugal primeiro” não é um projecto político, sequer um projecto para um projecto de uma proposta de uma política, é um vazio cheio de muita coisa e de nada.

Se a “demagogia é o principal inimigo da democracia” falar de tudo sem nada dizer e fazer disso uma bandeira o que será? “Portugal primeiro” o que é?

Estaria perfeitamente de acordo com a frase se me dissessem: somos contra os offshores, contra as mudanças de sedes de empresas para outros países, por exemplo. Gostava de ouvir isso claro e explícito. Mas será que é isso que se pretende?

“Portugal primeiro” não deverá ser encarado como o “America first” de Trump, mas que o pode fazer lembrar, isso pode e é perigoso. Até porque Rio não é Trump, embora muitos portugueses ainda sonhem com a América.

* Aposentado da função pública, mestre de artes e ofícios.

o link para a crónica

http://www.noticiasdeaveiro.pt/pt/47232/portugal-primeiro/

 

postais da ria (242)


dos deuses

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como se da caverna
saído
ofusca-me tanta luz

vejo o bisturi cortar
preciso
os mais ínfimos
detalhes
matando os deuses

sombras caminham
sombras
que sombra fazem
nada mais

como se da caverna
saído
ofusca-me tanta luz

os deuses
também morrem

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(torreira; 2011)