os moliceiros têm vela (438)


amanhã

murtosa; regata do bico; 2009
 amanhã pode ser um dia
 longe
 
 quisera ser barco ir  
 com o vento
 abraçar as nuvens
 
 amanhã pode ser um dia  
 longe
 
 saibas tu ser barco  
 mas navegar
 nunca foi arte fácil
 
 amanhã pode ser um dia  
 longe
 
 vida de marinheiro é dura
 grande o mar  
 amanhã vamos navegar 

 hoje

“… quando eu era criança…” de josé rui teixeira


“… quando eu era criança…” é uma selecção pessoal de poemas que fazem parte do conjunto “ORÁCULO” (2005-2006) e está publicado no livro “Autópsia” [poesia reunida]

crónicas da xávega (371)


era uma vez o abraço

praia da leirosa; carregar a rede; 2019
 um simples gesto
 de quatro braços feito
 solidários amigos
  
 tocam-se cotovelos
 tão pouco para tanta fome
 a morrer nos olhos
  
 um abraço um abraço
 quantos por dar
 
 abraçamos a vida
 nunca um abraço  
 doeu tanto 

a beleza do sal (115)


que fazer das palavras

morraceira; mexer; 2020
 que fazer das palavras
 se não o assassínio do silêncio
  
 que fazer das palavras
 se não a ferramenta da denúncia
  
 que fazer das palavras
 se não o dizer esta revolta hoje aqui
  
 que fazer das palavras
 se não servirem para derrubar o palco
 erguido pelo silêncio
 
 que fazer das palavras
 se as aprendi para as dar e serem mais
 
 só a conquista dá valor ao conquistado
 desprezadas são as ofertas
 
 que fazer das palavras
 se não usá-las para gritar quando necessário 

crónicas da xávega (370)


basta

xávega; arribar; torreira; 2016
 há tanto para dizer
 e são tão poucas as palavras
 
 resumo-me ao fazer
 ao saber que se quisermos
 faremos e seremos
 
 digo basta e tu sabes  
 que outra palavra por detrás
 
 digo basta e dói-me
 esta gente desiludida  
 a votar no engano  
 
 há tanto para dizer
 não basta escrever  
 não outra vez não
 
 basta