ao ano novo
ofereço-te os dias
onde fui mais que eu
por sobre a ria
as minhas aves voam
para poisar no sol
que cresçam contigo
e continuem a voar
(torreira; regata do s.paio; 2014)
ao ano novo
ofereço-te os dias
onde fui mais que eu
por sobre a ria
as minhas aves voam
para poisar no sol
que cresçam contigo
e continuem a voar
(torreira; regata do s.paio; 2014)
lição do mar (1)
ouver o mar
lição no mar (2)
chove no mar
e eu
de olhos secos
(19/12/18, aqui)
lição no mar (3)
no embalar das ondas
adormeço
e sonho-me criança
(20/12/18; aqui)
lição do mar (4)
ouvir nas nuvens
a música do mar
(21/12/18; aqui)
lição no mar (5)
há quem venha de longe
só para o ver
eu preciso dele para ser
(22/12/18; aqui)
lição de mar (6)
no princípio era o mar
pelo menos para mim
no fim
no fim será também
(24/12/18, aqui)
lição no mar (7)
ilusão
como se o mar nascesse aqui
mas é o mar que ao mar torna
(25/12/18; aqui)
lição de mar (8)
nos penedos
trazem o mar no corpo
de tanto terem navegado
enjoam em terra
(25/12/18; aqui)
a apanhar caranguejo
lição no mar (9)
há em mim uma criança
que nunca deixou de sonhar
é ela é sempre ela
que pela mão
me leva para o mar
(26/12/18; aqui)
no âmbito do projecto das 5as. de leitura, a biblioteca municipal da figueira da foz promoveu, em dezembro, dia 06, pelas 21h30 mais um encontro com um escritor nacional.
desta vez, o convidado foi nuno camarneiro, prémio leya 2012, que conversou com os presentes em torno da sua obra, bem como apresentar o seu mais recente livro “O Fogo Será a Tua Casa”.
desse encontro fica o registo essencial
presunção
o meu amigo vitó (falecido)
quando eu já cá não estiver
e te sentares numa rocha
à beira mar
talvez te lembres de mim
talvez
(torreira; 2013)
auto-retrato (4)
o meu amigo zé de gaia
o tempo escasseia
caminho
na lama da memória
apanho conchas
quase vazias
encho-as de rostos
pesco ao contrário
um chapisco nos dias
o silêncio a cobrir
um nome
arderei até
(torreira; 2014)
(a minha crónica de dezembro no “Notícias de Aveiro”)
manuel pego na sua #caçadeira a remar à ré – década de 90
No dia 13 de Maio de 2018, o Cais do Bico, na Murtosa, foi palco de um momento marco na história dos moliceiros tradicionais, o bota-abaixo do moliceiro Ferreira Nunes. Infelizmente pelo que vos contarei a seguir é também um dia triste e que servirá de alerta para o futuro.
ahcravo gorim *
manuel pego a levar a #caçadeira à vara – década de 90
A bateira mais pequena da ria de Aveiro é a #Caçadeira que, como a própria designação indica, era uma bateira usada para a caça e algumas artes de pesca solitárias. #Caçadeira sem qualquer outra designação acessória.
Entre os muitos mestres construtores, destacaram-se na construção da #Caçadeira, Joaquim Rato e Preguiça. Foi uma #Caçadeira construída pelo mestre Joaquim Rato – talvez a última em bom estado de conservação – que fotografei e medi, num armazém propriedade de familiares do mestre.
Comprimento– 4,5 metros ; Pontal – 0,30 m; Boca – 1,10m; Cavernas: 8
a #caçadeira feita pelo mestre joaquim rato
versão da #caçadeira a preto e branco
Como se pode ver era uma bateira muito pequena, normalmente só para uma pessoa, sem leme, nem traste e o mastro entrava num buraco existente no vertente. Era um barco muito leve, embreado e que o tripulante, normalmente caçador, podia facilmente transportar para seco e abrigar-se num coberto de junco ou canizia na espera da madrugada e da caça. Nos meus tempos de jovem cheguei a andar numa. Era a bateira que os emigrantes tinham para, no seu regresso temporário à Murtosa, fazerem as suas pescarias à fisga, à certela, ao candeio e grandes caçadas.
Nos meus arquivos encontrei uma foto, dos anos 90, de uma #Caçadeira, em frente ao Cais do Bico, já era só embreada por fora, tinha uma pintura alaranjada no interior. Ao mostrá-la ao balcão da Casa da Alcina, na Bestida, logo um companheiro, Carlos Litro, a identificou: era de Manuel Pego, funcionário da Auto-Viação da Murtosa, e nela o Carlos tinha feito muitas pescarias.
Ora no citado dia 13 de Maio, aconteceu também o bota-abaixo de uma bateira de recreio, a que deram o nome de “Menina da Ria”, com o comprimento de uma #Caçadeira, nada mais. Pintada de azul, amarelo, vermelho, branco e mais cores houvera, com leme, traste e mastro a entrar no “buraco do traste”. Só teria, repito, da #Caçadeira, sem o medir, o comprimento.
Logo ali foi identificada pela proprietária e pelo Presidente da Câmara da Murtosa como sendo uma “bateira caçadeira”. Ao Presidente da Câmara perdoa-se-lhe o não saber o que dizia, basta olhar para o logotipo que adoptou para o Município, o mesmo não se poderá dizer da sua proprietária que se diz estudiosa e defensora das embarcações tradicionais da Ria de Aveiro. Não me manifestei na altura atendendo à presença de amigos que tinham vindo de longe para assistir ao bota-abaixo do moliceiro. No entanto, perguntei a alguns murtoseiros, mais velhos que eu, se “aquilo” era uma #Caçadeira. A resposta imediata foi que não. Quem é que ia à caça com uma bateira colorida? Para cores havia as negaças.
Do bota-abaixo da dita bateira de recreio se fez divulgação e foi notícia, espalhando-se a falsa designação, associada a uma ainda mais falsa reprodução.
Imaginem a seguinte história. Um casal de jovens compra uma carrinha funerária em bom estado, pinta-a de cor de rosa, decora-a com corações vermelhos e adapta-a para caravana. Toda colorida, artilhada e preparada para passear, alguma vez alguém lhe chamaria carrinha funerária? Jamais! Era uma caravana para passeio.
É ridículo o exemplo? E o que fizeram à #Caçadeira? Pintam-na, fazem adaptações, chamam-lhe bateira-caçadeira, e são abençoados pelas entidades da terra.
Pior, se fizerem uma busca na internet usando o Dr. Google e escreverem “caçadeira” só vos aparecem armas, se escreverem “bateira caçadeira” vejam o que aparece. E assim o erro, que nos meios de comunicação tradicionais demorava anos a espalhar-se, hoje com a comunicação digital, reproduz-se a uma velocidade inimaginável.
A #Caçadeira, a mais pequena bateira da ria, tem de voltar a figurar de novo nas pesquisas do Dr. Google. Porque estou a escrever num jornal digital e a notícia vai ser reproduzida em publicações nas redes sociais, coloquei sempre o “hashtag” #, antes de Caçadeira. Facilita o encontrar da designação correcta associada a este conteúdo.
Podem perguntar porque esperei até agora para fazer esta publicação. Esperei muito, é verdade, mas tinha de investigar e testar aquilo que aqui afirmo, consolidar pesquisas. Este é o tempo.
Assim termina um ano de colaboração mensal no Notícias de Aveiro onde tive a liberdade de me expressar e desmontar algumas falsas verdades, que nunca foram desmentidas nem referidas pelos que as vão espalhando por aí.
Regresso em 2019, quando e com o que de interessante me parecer merecer escrita. Eu, como me conheço nesta fase da minha vida: sem outros compromissos para além dos impostos pelos médicos e por aquilo que me dá prazer fazer, quando me apetece fazê-lo.
Peço-vos que façam de 2019 o ano da #Caçadeira e da recuperação da sua memória, da verdadeira e não da que nos impingiram em 2018. Divulguem este artigo e as fotos.
postal com uma #caçadeira, da colecção de paulo horta carinha (1926)
Bom ano.
(nota: o facto de no artigo eu usar maiúsculas tem a ver com a natureza da publicação, excepção feita a #Caçadeira que foi propositado)
a crónica no “Notícias de Aveiro”
https://www.noticiasdeaveiro.pt/a-cacadeira-a-carrinha-funeraria-e-o-dr-google/
se houver deus
como se um soldado
desconhecido
perdido nos areais da costa
estreita-se o horizonte
esfumam-se os tempos de fartura
caminha ainda
interrogo-me por quanto tempo
quando já não os houver
erguerão monumentos
escreverão histórias
venderão livros e obras bastas
quando bastava terem feito
tão pouco para que a história
fosse outra
não lhes perdoeis senhor
que quem manda
sempre perdoado é
(espinho; 2012)
dos “artistas”
são e não são
depende de
conheço alguns
não gosto deles
(torreira; s. paio; 2018)
durante o lançamento o poeta ouve a sua poesia
no passado dia 8 de dezembro, decorreu na biblioteca municipal da figueira da foz o lançamento do último livro de rui miguel fragas.
“Sobre o prumo das falésias” foi distinguido com menção honrosa pelo júri do Prémio de Poesia Soledade Summavielle, destinado a obras originais e inéditas, com um mínimo de trinta poemas.
para mais informação consultar : https://correiodominho.pt/noticias/fafe-jorge-pereira-vence-premio-de-poesia-soledade-summavielle/108899
do lançamento fica o vídeo possível
dos sábios
o alar da manga do reçoeiro
o rigor das palavras
com que lavram o silêncio
desenham as perguntas
(torreira; 2016)