da companha

quinhões ou tecas
o sal do rosto
tempera o quinhão
(praia de mira; 2009)
da companha
quinhões ou tecas
o sal do rosto
tempera o quinhão
(praia de mira; 2009)
As mesas dos cafés, a globalização e a crise das utopias
No tempo em que vivemos, a que já alguém chamou “era da técnica”, a mesa do café saiu pela porta, pela janela, por onde pôde e estendeu-se pelo mundo. Globalizou-se. As conversas alargaram-se aos cinco continentes, passeiam pelas ruas de todos os países, a distância morreu nos braços do WWW e tudo pode ser aqui e agora.
As redes sociais não são mais que a mesa do café globalizada. Quem o não entender hoje, terá dificuldade em estar no amanhã.
Veja-se a recente eleição de Bolsonaro como Presidente do Brasil e de Trump nos Estados Unidos, e as polémicas que geraram. No entanto, Obama foi dos primeiros a utilizar as redes sociais numa campanha eleitoral, que venceu, embora sem quaisquer polémicas.
Assim sendo o que é que as separa? Se o meio é o mesmo, a polémica só pode ser gerada pelos conteúdos, não na exposição das opções políticas, essas claramente diversas, mas por um qualquer outro motivo. Em relação à eleição de Bolsonaro soubemos pelas televisões, e pelas redes sociais também, que tinha difundido a notícias falsas sobre os seus adversários – note-se que na moderna linguagem da comunicação, mentira e falsidade são “inverdades”.
Será que isso só acontece nas redes sociais? E nos meios de comunicação tradicionais? Argumentarão os defensores destes que sendo os seus profissionais jornalistas, obedecem a regras deontológicas e de credibilidade que as redes sociais não contemplam. Seria verdade se não estivéssemos atentos às “notícias” que nos são servidas a toda a hora. “Notícias” que constroem redes sociais nas velhas mesas de café, gerando conversas que se debruçam sobre o “estado a que isto chegou !”.
As redes sociais são o inimigo número um da verdade na informação? Claro que não.Tal como não se pode dizer que os automóveis são o maior inimigo do homem, apesar dos últimos dados sobre os mortos causados por acidentes com automóveis.
A internet veio pôr à disposição do homem novas formas de comunicação, não criou um homem novo. Vivemos num tempo em que a crise das utopias se faz sentir ao nível dos valores e da ética: vale tudo desde que eu ganhe! O “nós” é um eu sem vergonha.
“Caro leitor” , sejamos claros e directos, vivemos numa sociedade onde o dinheiro comanda a vida – “… hoje tudo é mercado” escreveu Rosa Montero. António Gedeão neste momento, onde quer que esteja, só tem pesadelos.
Sei que escrevo esta crónica num jornal local digital, e o que escrevo aqui também o faço nas redes sociais, não é criado no silêncio dos corredores, numa fábrica das inverdades ou à mesa onde come a alta finança e tudo se planeia. Escrevo-o aqui e …. se já piquei de algum modo a sua curiosidade ou lhe abri uma janela para espreitar de outra forma a realidade que lhe servem em directo, já foi bom.
Até breve, aqui ou numa qualquer rede social perto de si.
(nota esta crónica surge na continuação da anterior e encerra-a)
link para a notícia
https://www.noticiasdeaveiro.pt/as-mesas-dos-cafes-a-globalizacao-e-a-crise-das-utopias/
urgente
o mestre zé rito ao leme do moliceiro “Zé Rito”
poesia precisa-se
poetas abundam
o mestre zé rito ao leme do moliceiro “Zé Rito”
(torreira; regata do s. paio; 2018)
da vida
o jacinto arruma as redes da solheira
na nascente saberá
o rio do mar?
(torreira; 2018)
da mão
flor de sal
a que dá
a que tira
a que ignora
a que acaricia
a que fere
a que mata
qual a tua?
(armazéns de lavos; 2017)
todo o tempo
o carregar do saco
olhar os rostos
lembrar os nomes
dizê-los
os amigos vêm
pela mão
das palavras
pelo olhar
que os resgata
todo o tempo
é agora
(torreira; 2012)
da ilusão
um mais um
quantos são?
o total depende
sempre de ti
(torreira; s. paio; 2011)
do sonho
tudo se desgasta
só tu permaneces
(torreira; s. paio; chinchorros; 2013)
o ti américo, numa ida ao mar em 2011, o primeiro ano em que trabalhou na torreira
a 23 de outubro de 2009, participei no museu de ílhavo, num colóquio que tinha por título “Falas do mar/Falas da ria”, aí se questionou o porquê de serem conhecidas tantas falas dos trabalhadores da terra e não serem muito conhecidas falas de pescadores..
no dia 18 de novembro, num espectáculo intitulado “Quando o homem lavrava o mar”, realizado na sala dos “caras direitas”, na figueira da foz, passou um registo fílmico sobre o alar manual das redes das traineiras, e era perfeitamente audível a fala/canto com que os pescadores marcavam o ritmo da alagem.
em 2016, pedi ao ti américo, pescador de esmoriz mas a trabalhar na torreira, na altura com 78 anos como refere no video, que cantasse como o fazia no tempo em que, “puto” ainda”, ia ao mar.
não fica letra completa, mas fica o que a memória preservou
disseram-me alguns pescadores que era hábito, quando iam ao mar, entoar o padre nosso cantado de acordo com o ritmo dos remos, não consegui porém, na torreira, recolher qualquer registo.
este é o único que consegui até hoje. e vale muito.
obrigado ti américo
(torreira, 18 de agosto de 2016)
da amizade
há quantos anos
foi ontem?
(torreira; safar; 2018)m safa