mais um

o arribar da manga do reçoeiro
o que fui
leva pela mão
quem sou
olhos meus
sempre
até quando
o mar as gentes
os rostos
os gestos as artes
mais um
(leirosa; 2017)
mais um
o arribar da manga do reçoeiro
o que fui
leva pela mão
quem sou
olhos meus
sempre
até quando
o mar as gentes
os rostos
os gestos as artes
mais um
(leirosa; 2017)
não ardem
vão em bando
em direcção ao sol
sonham-se
mais que barcos
aves homens terra
esta
vão em bando
em direcção ao sol
reinventam-se
não ardem
(murtosa; regata do bico; 2009)
pescador
não saber onde
ignorar o quê
crescer para
ser maior que
vencer o mar
ganhar terra
(torreira; 2010)
Falar e Dizer Pessoa» na Biblioteca Municipal
A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, em colaboração com a sua Comunidade de Leitores, evocou o 130º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa (1888 -1935) e organizou um encontro de poesia «POEMA(R)-TE: falar e dizer PESSOA», dia 9 de Novembro, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal
A apresentação ficou a cargo de Isabel Maia
A iniciativa, gratuita, contou com a participação de elementos da Cooperativa BONIFRATES, que fizeram leitura de textos de Fernando Pessoa e seus heterónimos, bem como de todos quantos partilham o gosto pela obra daquele que, apesar de apenas ter publicado um livro em vida, «Mensagem», é considerado um dos escritores portugueses mais importantes do século XX. (retirado do programa) do acontecido aqui fica o registo possível
(retirado do programa)
do acontecido aqui fica o registo possível
vivo de
achegar
se me vires a sorrir
quando caminho
é porque há um outro
dentro de mim
jovem ainda cheio de
tudo por fazer
vou com ele por aí
vivo de sonhar-me
(morraceira; achegar; 2016)
sorrio de mim
safar as redes da solheira
sou a memória
de ter sido
habito-me emalhado
na rede dos dias
reinvento-me
em tudo o que faço
sorrio de mim
(torreira; porto de abrigo; 2013)
chove
entrançar palha – bracinhar – para fazer esteiras
na caixa do correio
as chaves
ao abrigo da chuva
difícil seria lê-las
se molhadas
(murtosa; festa do emigrante; 2014)
santa ignorância
o sacudir do saco
espanta-me a ignorância
dos que sábios se dizem
predicando asneiras
como se verdades porque
por si proclamadas
assusta-me a velocidade
com que o erro se propaga
pela mão desta gente
o que foi já não é
santa a ignorância
que constrói os dias
(torreira; 2011)
navegar
navegar
de corpo em corpo
ave na vertigem
de voar sem asas
amanhã será
se for
agora é
(murtosa; regata do bico; 2012)
viagem
a mulher, a muleta, o arinque, o barco adivinha-se, o mar sente-se
olho e sinto
como se hoje
a caminhada começa
pelo fim
que pernas estas
os olhos
por que caminhos
me levam
o sentir
as palavras
vou e fico
viajo em mim
(torreira; 2009)